terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A DOENÇA MENTAL E A PSICOLOGIA EM FOUCAULT E FREUD

Meninas artigo muito interessante...

De: Vitor Lima da Silva

CienteFico. Ano II, v. I, Salvador, agosto-dezembro 2002
A Doença mental e a Psicologia em Foucault e Freud.
Vitor Lima da Silva
Michel Foucault inicia seu texto fazendo uma crítica muito pertinente à psicologia, mais
precisamente ao seu método. Segundo o autor, em linhas gerais, a psicologia tenta
enquadrar as doenças mentais em parâmetros construídos pela medicina orgânica, no que
diz respeito às categorizações dos sintomas e às classificações conceituais. Ao longo do
texto ele irá demonstrar que essa tentativa é falha, e que a psicologia deveria buscar um
método próprio, o qual levasse em consideração a totalidade do individuo
(orgânico+psíquico).
No decorrer de suas argumentações, o autor irá fazer uma análise do tempo, no qual situa o
devir psicológico como sendo resultado da história e da evolução do indivíduo,
concomitantemente. A idéia de evolução psicológica integra o passado e o presente numa
unidade sem conflito, sendo que o passado promove o presente e o torna possível. Os
comportamentos atuais do indivíduo são determinados por uma continuidade temporal e
linear. Já na concepção de história é o presente que se destaca do passado, confere-lhe um
sentido e o torna inteligível. Tanto a história como a evolução giram em torno de um ciclo,
que se reveza entre o passado e o presente.
Diante desta análise de presente e passado, Foucault faz uma crítica ao método
psicanalítico, por utilizar a regressão como fuga do presente, através da irrealização do
presente. Certamente Freud dá um passo adiante ao considerar a história do indivíduo, mas
peca quando deposita toda a importância da doença no passado do sujeito. Para Foucault o
passado não é tão importante, pois a vida do sujeito se enraíza no presente e se projeta para
o futuro; enquanto que o passado parece retirar essa possibilidade, fixando o sujeito em um
tempo que não mais existe.
A irrealização do presente se caracterizaria como uma fuga para defender-se do passado
insuportável. É em torno dessa noção de defesa psicológica que a psicanálise se estruturou;
pois, para ela, o sujeito reproduz sua história respondendo a uma situação presente, através
dos sintomas. Não consegue, porém, efetivar esse presente, ficando preso no seu passado
patológico. A defesa contra o presente torna-se uma necessidade, pois ele não consegue
realiza-lo e a “solução” que o indivíduo encontra é a defesa. E a partir desse presente é
preciso compreender e dar sentido às regressões evolutivas que surgem nas condutas
patológicas.
Foucault aponta os estudos psicanalíticos, citandos; por exemplo, a caracterização instituída
pela psicanálise entre os indivíduos neuróticos e os psicóticos - classificação que serve de
base e direcionamento à nosografia freudiana. Neste sentido, pode-se perceber que o autor
enquadra esta teoria no modelo metodológico criticado. Desta forma, coloca a insuficiência
deste ponto de referência para se compreender o universo mórbido do doente mental;
embora não o negue como ponto de partida na história das psicopatologias. Foucault critica
as ciências naturais, afirmando que elas vêem o paciente simplesmente como objeto e, por
isso, deixam passar despercebido as particularidades pessoais, tão importantes para a
compreensão da história do indivíduo, já que esta deve ser vista como algo único e total. A
reflexão histórica é feita pelo paciente e somente assim o médico tem acesso à doença.
Dessa forma o médico pode apenas intuir o que se passa com paciente, já que ele não
vivencia a mesma situação do paciente.
Para Foucault, a noção de doença é muito subjetiva: além de depender da personalidade do
sujeito, depende ainda da cultura do contexto no qual está inserido. Uma doença pode ter
vários significados nos diferentes locais. Muitas vezes, dependendo da cultura, até mesmo
um comportamento diferente pode ser considerado uma doença. Foucault critica o método
atual da psicologia, pois este não consegue associar a patologia à totalidade psíquica do
indivíduo, fragmentando-o como o faz a medicina tradicional. Para o autor é preciso
encontrar um estilo de coerência psicológica que autorize a compreensão dos fenômenos
mórbidos sem tomar como modelo de referência as fases biológicas.
Ele fala das limitações da psicologia, no sentido de não possibilitar o homem de se
conhecer. O homem seria, então, impedido de se encontrar com a sua loucura, que seria
uma de suas verdades. Ela se torna a fuga do homem, funcionando como um mecanismo de
defesa, já que o protege de se defrontar com um lado obscuro e angustiante de si mesmo.
Tais classificações de enquadramento só serviriam para limitar o conhecimento real sobre o
comportamento, principalmente aqueles que são enquadrados como anormais ou loucos.
Referências Bibliográficas:
FOUCAULT, Michel. Doença Mental e Psicologia, Ed. Tempo Brasileiro.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Os Indivíduos e a Verdade.

Como pudemos observar durante a leitura de "A História da Loucura", a dinâmica da relação entre subjetividade e verdade esteve em jogo em relação a experiencia da loucura em toda a obra de Foucault.
O que deve ser problematiado segundo Foucault é a questão de como a verdade foi colocada em relação a loucura. Ou seja, como se pode colocar a questão da loucura em discurso, faendo-a funcionar no sentido de "discursos de verdades", tendo um estatuto e uma função de saber positivo. Deste ponto foi empreendida uma história da loucura, colocada em termos de verdade no interior de um discurso em que a loucura do homem deve dizer alguma coisa a respeito da verdade do que é o homem, o sujeito ou a razão.
Então, podemos concluir de uma forma até simplista aparentemente que a loucura é a desrazão do homem, então, a loucura diz muito a respeito do que é a verdade. E se não existisse loucura? Ainda existiria verdade? Apenas verdades? Sem devaneios, sem fantasias ? Ai que chato!!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

MATÉRIA INTERESSANTE SOBRE FOUCAULT

Foucault no século 21


Vinte e cinco anos após sua morte, as ideias do filósofo francês continuam no cerne das pesquisas em ciências humanas: da psicologia ao direito; da filosofia à educação

André Duarte

Foucault criou os instrumentos teóricos essenciais para refletirmos sobre as novas formas de biopolítica no século 21

Poucos pensadores exerceram maior impacto sobre as ciências humanas que Michel Foucault. Vinte e cinco anos após sua morte, ocorrida no dia 25 de junho de 1984, o caráter generoso de suas ideias inovadoras se manifesta na renovação do campo de investigação da psicologia, da psiquiatria, da história, do direito, da arquitetura, da filosofia, da sociologia e da educação, entre outras disciplinas. Dos anos 1960 ao começo da década de 1980, Foucault formulou conceitos e abordagens teóricas que descortinaram novos objetos e demoliram velhas questões ao demonstrar que a história não é o palco pelo qual desfilam os mesmos problemas singulares de sempre. Como poucos dentre seus contemporâneos, Foucault soube apropriar-se do projeto nietzscheano de destruição e transvaloração dos valores vigentes, ensinando-nos a desconfiar da herança metafísica incrustada em conceitos supra-históricos como 'o' Homem, 'a' verdade, 'a' natureza, 'o' poder, 'a' razão, 'o' sexo, 'o' corpo, etc.

As marcas de sua genialidade intelectual já se anunciavam em sua primeira grande obra, A história da loucura na idade clássica, publicada em 1961. Abria-se ali o espaço de pesquisas que Foucault denominou como uma arqueologia das ciências humanas, e que culminaria em obras fundamentais como As palavras e as coisas, O nascimento da clínica e Arqueologia do saber. Nelas, o autor empreendeu uma crítica não epistemológica da razão, isto é, um questionamento que não visava avaliar a evolução histórica da cientificidade das ciências, mas trazer à luz os pressupostos profundos que permitiram à modernidade entronizar a razão como critério absoluto a partir do qual se poderia determinar, por exemplo, o ser da loucura. Assim, ao elaborar sua peculiar história da loucura, Foucault abriu mão da ideia de que a relação histórica entre razão e loucura se dera a partir da contínua e gradual conquista das luzes sobre as sombras, roteiro em que a psiquiatria representava a conquista da suposta verdade da loucura enquanto doença mental e a consequente libertação do louco em relação a velhos preconceitos.

Silenciamento da desrazão

Por outro lado, e de maneira mais ambiciosa, Foucault se perguntou como foi que se definiu a moderna decisão que apartou a razão de seu outro, contando-nos uma história na qual o saber psiquiátrico era compreendido como a etapa derradeira de um longo processo de silenciamento da desrazão, cujos primeiros sintomas já se deixariam evidenciar em acontecimentos do século 17 como a instituição do Hospital Geral, o grande internamento e a metafísica de Descartes. Segundo Foucault, Descartes teria excluído a loucura do processo da dúvida metódica que leva à descoberta do cogito, explicitando assim a decisão fundamental da modernidade em opor a ordem da razão à desordem da desrazão: se duvido, penso, e se penso não posso ser louco.

Em As palavras e as coisas, Foucault formulou o polêmico conceito de épistémè. Aludia-se com ele a uma ordem ou princípio de ordenação dos saberes anterior a qualquer enunciado visando o conhecimento, de modo que a épistémè epistémé seria a instância arqueológica profunda que tornaria qualquer enunciado possível: tratava-se de nomear o solo fundamental que conferiria legitimidade e positividade ao saber de cada época. Em outras palavras, Foucault não se propunha a fazer uma história das ciências ou uma história das ideias, mas procurava descrever a configuração e as transformações históricas das diferentes épistémès, as quais marcariam diferentes possibilidades de pensamento e conhecimento, sem qualquer linearidade progressiva na passagem de uma épistémè a outra. Subjacente a toda cultura e, portanto, a toda forma de conhecimento, Foucault detectava a existência de uma ordem, de um espaço de identidades, de similitudes e de analogias por meio das quais classificamos e distribuímos os objetos do conhecimento. A obra era polêmica e despertou grande interesse e muitas críticas, pois Foucault foi acusado de hipostasiar a história e a práxis humana por detrás da ação silenciosa de estruturas anônimas.


Foucault descobriu que os micro-poderes disciplinares exerciam seus efeitos discretos sobre os indivíduos, visando transformar os corpos em "dóceis e úteis"


Saber-poder-verdade

Em 1970, Foucault foi eleito para o prestigioso Collège de France e sua aula inaugural, A ordem do discurso, sinalizou uma virada em suas reflexões. Por certo, a política não estivera ausente das pesquisas arqueológicas, como testemunha seu acirrado embate com Sartre, a fenomenologia francesa e com os marxistas. Entretanto, agora Foucault não mais se contentava em avaliar as condições arqueológicas de ordenação dos enunciados, mas começava a interrogar os sistemas de exclusão e rarefação que envolvem toda enunciação discursiva. Sob forte inspiração nietzscheana, Foucault passava a questionar certas figuras histórico-políticas da vontade de verdade e da vontade de saber que permearam a história ocidental, perguntando-se, então, quem pode dizer algo e sob quais condições institucionais. Iniciava-se assim o período de suas investigações genealógicas, centradas no questionamento específico das relações intrínsecas entre saber-poder-verdade. Foucault insistirá em que não há verdade fora do poder ou sem o poder, pois toda verdade gera efeitos de poder e todo poder se ampara e se justifica em saberes considerados verdadeiros.

Nas pesquisas genealógicas dos anos 1970, Foucault analisou a constituição histórica das relações de poder em seu caráter produtivo e eficaz em obras fundamentais como Vigiar e punir e o volume I da História da sexualidade. Nelas, ele questionou a concepção filosófica moderna do sujeito constituinte e substituiu-a pela concepção de que o sujeito é constituído historicamente, simultaneamente à constituição das práticas e dos discursos que se multiplicaram nas diversas instituições sociais nascentes a partir do século 17, tais como a escola, o hospital, o quartel, as fábricas.

Quanto à análise das relações de poder, observava-se uma dupla inovação: por um lado, Foucault desviava os olhos da relação jurídica entre o Estado e o cidadão para lançar seu olhar microscópico sobre as múltiplas relações de poder presentes nas instituições sociais nas quais se forjou o indivíduo disciplinado e normalizado. Por outro lado, fugindo à tópica do poder repressor, Foucault descobriu que os micro-poderes disciplinares exerciam seus efeitos positivos e discretos sobre o corpo dos indivíduos visando transformá-lo num corpo dócil e útil, segundo a conhecida fórmula de Vigiar e punir. Com as pesquisas genealógicas, Foucault se propôs a investigar como se produziu o indivíduo moderno, o sujeito sujeitado e disciplinado em seus gestos, comportamentos, discursos, etc.

Biopolítica

Se o ponto de partida da genealogia foucaultiana do poder foi a descoberta dos micro-poderes disciplinares que visavam à administração do corpo individual, seu ponto de chegada foi a descoberta do biopoder e da biopolítica. Tratava-se de uma nova forma de exercício do poder soberano, nascente na passagem do século 18 para o 19, cujo alvo não era mais a produção do indivíduo dócil e útil, mas a gestão calculada da vida da população de um determinado corpo social. Foucault chegou à descoberta do biopoder ao analisar o que chamou, em História da sexualidade, de dispositivo da sexualidade, isto é, a sexualidade como o produto de discursos científicos e morais pautados pela vontade de saber, pelo ideal de normalidade e pela obsessão em esconjurar e escrutinar a anormalidade. Foucault descobriu que o sexo não era apenas a matriz privilegiada para o exercício dos poderes disciplinares, pois também constituía o foco por excelência para o gerenciamento planificado de fenômenos populacionais como as taxas de nascimento e mortalidade, as condições sanitárias das cidades, os índices de contaminação, etc.

A partir do século 19, interessava ao novo poder estatal estabelecer políticas higienistas por meio das quais se poderia sanear o corpo da população, depurando-o de suas infecções internas. Novamente se evidencia a genialidade de Foucault: ali onde nossa consciência iluminista nos levaria a louvar o caráter humanitário de intervenções políticas visando incentivar, proteger, estimular e administrar as condições vitais da população, Foucault descobriu o elo fatal entre higienismo, eugenia, racismo e genocídio. Em uma palavra, ele compreendeu que a partir do momento em que a vida passou a se constituir no elemento político por excelência, tal cuidado político da vida trouxe consigo a exigência contínua e crescente da morte em massa, pois é apenas no contraponto da violência depuradora que se podem garantir mais e melhores meios de sobrevivência a uma dada população. Eis, portanto, o motivo pelo qual o século 20 pôde testemunhar o advento do nazismo e do stalinismo, para não mencionar os inúmeros casos em que democracias liberais valeram-se do racismo e do extermínio para lidar com suas 'enfermidades' e 'patologias' sociais.

O conceito de biopolítica é um dos principais legados teóricos de Foucault, tendo sido retomado e revisado pela reflexão de Giorgio Agamben ( leia artigo neste dossiê), Roberto Esposito, François Ewald, Michel Sennelart, Michael Hardt e Antonio Negri, dentre outros. Com ele, Foucault não apenas nos ofereceu uma ferramenta para pensar os fenômenos extremos do nazismo e do stalinismo, como também nos concedeu um importante instrumento para pensar as novas formas biopolíticas de controle neoliberal de populações. Em Nascimento da biopolítica, curso de 1979, Foucault já indicava que o mercado competitivo tornar-se-ia a instância da produção de uma nova figura subjetiva, aquela que procura responder da melhor maneira possível às exigências e demandas variadas do próprio mercado econômico, tornando-se, para tanto, um empreendedor de si mesmo. Com muita perspicácia, Foucault compreendeu que o mercado das sociedades empresariais seria o lugar privilegiado ao qual nos reportaríamos a fim de nos tornarmos agentes econômicos competitivos. A profecia parece ter se cumprido, pois cada vez mais tornamo-nos presas voluntárias de processos de individuação e subjetivação controlados flexivelmente pelo mercado e seus ideais normativos.

FONTE: http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/foucault-no-seculo-21/

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Foucault em seu cap. X nos diz que a ameaça da loucura retoma seu lugar entre as urgências do século. No entanto esta consciência tem um estilo bem particular. O espanto causado pelo desatino é muito afetivo, e considerado quase em sua totalidade nos movimentos das ressurreições imaginárias. O homem é separado de sua verdade e exilado na presença imediata de um ambiente em que ele mesmo se perde.

Isso nos parece bastante ser muito recente como nos fala Vera Malaguti Batista em seu trabalho Cidade do Rio de Janeiro: desassossegos e transbordamentos

Essas medidas de esquadrinhamento dos focos possíveis de rebelião, de mapeamento e controle sobre a movimentação dos negros na cidade do século XIX nos remetem ao grande medo a que Foucault se refere com relação à loucura no século XVIII na Europa. Com as políticas de internamento “o mal que se tinha tentado excluir com o internamento reaparece para maior espanto do público, sob um aspecto fantástico”.

É a partir de uma linguagem racional que Foucault pode questionar a soberania da razão, apontando Freud como aquele que rompe com o paradigma da psiquiatria tradicional e tenta restabelecer uma comunicação com o desatino. “Freud retomava a loucura ao nível de sua linguagem, reconstituía um dos elementos essenciais de uma experiência reduzida ao silêncio pelo positivismo”. De acordo com Foucault (1993: 338), Freud “não acrescentava à lista dos tratamentos psicológicos da loucura uma adição maior; reconstituía, no pensamento médico, a possibilidade de um diálogo com o desatino”.

ISSN 1981-1225

Dossiê Foucault

N. 3 – dezembro 2006/março 2007

Organização: Margareth Rago & Adilton Luís Martins

http://www.unicamp.br/~aulas/pdf3/12.pdf

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Capitulos de V a IX

Postando pra a AUZI

Cap. V

Neste capítulo V, quando se põem a prova o que realmente é a loucura penso que o autor não está totalmente errado. Quando nos colocamos a ouvir atentamente um “louco” em seus devaneios. Se não nos permitirmos ficarmos fincados na realidade e embarcarmos em seus delírios realmente ficaremos em duvida quanto a sua loucura. Os loucos são extremamente convincentes em seus discursos. Uma colega de trabalho enquanto estagiava na Colônia Santana acreditou na história de seu paciente. Ao final do estagio não sabíamos quem estava mais louco, o paciente ou a minha colega estudante.
Não é com punições que se consegue controlar uma doença. Não é colocando-os em cubículos escuros, ou mantendo-os amarrados em seus leitos que as doenças vão embora ou desaparecerão.
Também a igreja como fonte de poder na época tratava estes loucos hora como seres endemoniados hora como animais, irracionais e sem direitos ou deveres.
Quantas atrocidades cometidas em nome de uma “loucura”.

Cap. VI

Neste capitulo VI, é quando saímos de que as doenças são mandadas por Deus e sabe-se que as doenças mentais são doenças da cabeça e na cabeça. Que não é a alma que adoece. A partir disso passa-se a classificar as doenças dentro de suas várias especificidades (ainda restritas). Porem estas especificidades começam a aparecer.
A partir daí que se passa a saber que as doenças mentais não são influenciadas e nem ocorrem por causa da lua (lunáticos).
O que me chamou muito a atenção neste capitulo é que um individuo só é louco quando um outro diz isso. Pois para ele próprio isto não se torna real. Após muitos estudos chegou-se a essa conclusão em 1875. Pior fui eu que cheguei a essa conclusão somente hoje.

Cap. VII

Este capitulo inicia falando da loucura também como doença da alma. Alguns cientistas da época concordam e outros não. Os que acreditam ser real a loucura interferir na alma ou ser parte integrante dela fazem por acreditarem o cérebro como o órgão mais próximo da alma.
Também estudaram as doenças mentais fazendo experimentos com os cérebros de pessoas mortas que possuíam ou não doença mental. Testando a sua espessura, cor peso. Alguns concordando e outros discordando.
A relação das doenças mentais com a lua também é bastante visível. Acreditam os adeptos deste credo que a doença se manifesta conforme as mudanças da lua. Fenômeno chamado de lunatismo.
Segundo o autor a loucura e a paixão andam juntas, pois as duas deixam seus portadores sem ação. Seus pensamentos já não são como anteriormente.
Ele ainda compara o louco ao cego, pois os dois deixam de ver a realidade como ela é realmente. O cego por não poder ver e o louco por não enxergar a realidade como ela realmente se apresenta.

Cap. VIII

Neste capitulo o autor mostra as várias formas como a loucura era vista entre os séculos XVI a XVIII. Alguns separaram em várias doenças, outros achavam que todas eram iguais. Alguns acreditavam que eram problemas de má circulação cerebral devido ao sangue ser muito grosso, outros que eram problemas nos mais diferentes órgãos do corpo (fígado, estomago, rins, intestinos, etc.). Mas ainda a idéia de que mais ecoava na época era de que as doenças mentais provinham dos espíritos.
Podem ainda vir da menstruação ou das hemorróidas. Nestes pontos de vista tudo pode ser causa da loucura.
Ainda na pagina 294 ele diz o seguinte: “terrível estado!... É o suplicio de todas as almas afeminadas que a inação precipitou com volúpias perigosas...”. Não sei se ele diz isso porque as mulheres são mais vulneráveis as doenças mentais ou se os homens que tem as almas afeminadas ficam doentes por isso.

Cap. IX

Faz-se tratamento com ópio, porem observa-se a sua ineficácia. Faziam também uso da urina como parte do tratamento. O uso de urina no tratamento das doenças data de mais ou menos 5000 a.c. Hoje é conhecida como urinoterapia. É uma terapia alternativa só que hoje diferente daquela época ela é tomada enquanto que lá era utilizada como inalação.
Para os adeptos desta terapia dizem que a ingestão da primeira micção do dia é a mais recomendada. Ela traz harmonia para o corpo, mente e o espírito, pode prevenir doenças e até mesmo curar o câncer.
A urina também é utilizada na produção de cosméticos, segundo os fabricantes ela ajuda no rejuvenescimento da pele.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A experiência trágica e cósmica da loucura viu-se mascarada pelos
privilégios exclusivos de uma consciência crítica. É por isso que a
experiência clássica, e através dela a experiência moderna da
loucura, não pode ser entendida como uma figura total, que
finalmente chegaria, por esse caminho, à sua verdade positiva; é
uma figura fragmentária que, de modo abusivo, se apresenta como
exaustiva; é um conjunto desequilibrado por tudo aquilo de que
carece, isto é, por tudo aquilo que o oculta. Sob a ciência crítica da
loucura e suas formas filosóficas ou científicas, morais ou médicas,
uma abafada consciência trágica não deixou de ficar em vigília

(Foucault, 1997: 28-29).

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

William Faulkner, in 'Na Minha Morte'

"Às vezes não tenho tanto a certeza de quem tem o direito de dizer quando um homem é louco e quando não é. Às vezes penso que não há ninguém completamente louco tal como não há ninguém completamente são até a opinião geral o considerar assim ou assado. É como se não fosse tanto o que um tipo faz, mas o modo como a maioria das pessoas o encara quando o faz".

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Da reflexão

"... Pois, se a reflexão acredita poder definir-se ela mesma no momento em que parte para atingir o irrefletido, ela não pode deixar de se modificar durante o caminho. O que lhe aparecia como que a distância, embora sempre a seu alcance, não para de se retirar, de se subtrair a seus propósitos."
p.43
Colette, Jacques. Existencialismo. Porto Alegre, RS: L&PM, 2009

sábado, 23 de outubro de 2010

Foucault nos fala na pag. 139, que se conspira de modo tão espontâqneo com a maldade, a loucura voluntária, aquela que parece apoderar-se do homem contra sua vontade, não é nada diferente, em sua essência secreta, daquela que é fingida intencionalmente por indivíduos lúcidos.

Rigor na alienação, a insensatez, o modo fácil de conspirar, de trancafiar o que nos incomoda e daí não há escuta, não há olhar e principalmente um outro olhar, um além do bem e do mal.

Abaixo uma parte do livro que relata situações de internação no Brasil e fala dos que ali viveram muito tempo.

História e loucura : saberes, práticas e narrativas / YonissaMarmitt

Wadi, Nádia Maria Weber Santos, organizadoras. - Uberlândia :

EDUFU, 2010. 368 p. In http://www.scribd.com/doc/33895338/Historia-e-loucura, Acesso em 23/10/210

Um Lugar (im)Possível Capítulo11:

Narrativas sobre o viver em espaços de internamento Yonissa Marmitt Wadi. Poucos, dentre os vários sujeitos anônimos ou famosos, que foram internados e viveram curtos ou longos períodos em asilos ou hospitais psiquiátricos, relataram em escritos (na forma de bilhetes, cartas, poesias, diários, romances etc.), em imagens (desenhadas no que encontravam pela frente, nas paredes das instituições, em telas ou papeis oferecidos nas oficinas terapêuticas) ou mesmo por meio da fala (capturada em gravações) suas experiências no interior das instituições. Alguns dos internos delinearam em seus escritos o processo de sua enfermidade, os tratamentos buscados (antes e depois da internação), seu encontro com as práticas e o poder médico; alguns outros se limitaram a reivindicar sua condição de não louco, condição esta atestada pela Doutora em História; professora do CCHS e dos programas de mestrado em História e em Desenvolvimento Regional e Agronegócio – Unioeste; bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq.

História e loucura: saberes, práticas e narrativas por médicos psiquiatras (ou não) quando da internação nas instituições; outros ainda rememoraram suas vidas até o momento da internação, ora no sentido de defenderem- se da acusação de serem loucos, ora acusando outrem (especialmente familiares, amantes, inimigos etc.) pela impu- tação da loucura a eles dada.

Ser considerada uma doente mental fez com que Stela fosse internada e permanecesse até sua morte em instituições manicomiais, porém, contrariamente a qualquer diagnóstico, era vista por outros sujeitos (seus companheiros de internamento ou mesmo alguns operadores de saberes como psiquiatras ou psicólogos), para além do redutor atributo de doente mental. Era considerada uma filósofa /poeta que refletiu as dores, os horrores, mas também o processo de subjetivação no hospício. Por um lado, suas palavras – transformadas em texto – podem ser consideradas.

Para Stela, o espaço de internação, “o hospital parece uma casa”, mas “o hospital é hospital”. O olhar de Stela remete ao significado comumente atribuído às práticas e à instituição psiquiátrica – lugar de controle e exclusão, de criação de doença, não de cura:

Estar internada é ficar todo dia presa,

Eu não posso sair, não deixam eu passar pelo portão

Maria do Socorro não deixa eu passar pelo portão

Seu Nelson também não deixa eu passar lá no portão

Eu estou aqui há vinte e cinco anos ou mais.

Eu estava com saúde

Adoeci

Eu não ia adoecer sozinha não

Mas eu estava com saúde

Estava com muita saúde

Me adoeceram

Me internaram no hospital

E me deixaram internada

E agora eu vivo no hospital como doente...

O remédio que eu tomo me faz passar mal

E eu não gosto de tomar remédio pra ficar passando mal

Eu ando um pouquinho, cambaleio, fico cambaleando

Quase levo um tombo

E se levo um tombo eu levanto

Ando mais um pouquinho, torno a cair.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A LOUCURA ESCONDE ENIGMAS DE UMA VERDADE.

Postando para: Cristiane Braga

A LOUCURA ESCONDE ENIGMAS DE UMA VERDADE

O mundo da loucura funciona como um mecanismo dos a-sociais, elementos nocivos que desorganizam o estado e causam o mal-estar da sociedade.
Esta imóvel identidade de uma existência obscura,esta no limiar da loucura, segregando a luz da verdade, permitindo de modo implícito um esquema de exclusão superposto.
O homem moderno designou no louco sua própria verdade alienada transformando as transgressões éticas em desatino ou doença mental.
A cumplicidade da medicina com a moral luta em favor do corpo, num esforço na direção do restabelecimento da saúde e imprime moralmente um sentimento de terror, como forma de repressão, coação e obrigação em conseguir a salvação e purificação da alma.
A sexualidade também foi integrada a este sistema de coação pertencendo à ordem do desatino e assumindo um aspecto de problema psicológico.
As desordens da alma como as violências contra o sagrado, blasfêmias, profanações e suicídios, todos passam por uma conduta moral, que eram punidos com a coação para atenuar uma desordem social. Os gestos de magia e as condutas profanatórias tornaram-se patológicas a partir do momento em que uma cultura deixa de reconhecer sua eficácia. A passagem para o patológico não se realizou de maneira imediata, mas sim através da transição de uma época que neutralizou sua eficácia, culpabilizando suas crenças, pois as leis humanas eram coordenados pelas leis divinas.
O controle da loucura e das expressões se dá através do internamento que tem a função de uma reforma moral em prol da verdade libertada, a fim de que a insanidade se torne um objeto de percepção, assumindo um aspecto de um fato humano do campo das espécies sociais.
Não é libertação para o saber iluminado, nem abertura pura e simples das vias do conhecimento. O internamento circunscreve a área de uma objetividade possível, pois foi afetado pelos valores negativos do banimento.
Esta loucura sob as inadaptações sociais, ocorre numa espécie de experiência comum da angústia, e o problema real é determinar o conteúdo desse juízo, sendo que não se trata de localizar o erro, uma desordem de conduta, de costumes e do espírito. É todo domínio obscuro de uma raiva ameaçadora que surge, uma noção confusa para nós, clara apenas para um dos poderes atribuídos a si mesmo no sentido positivo, assumindo um caráter patológico da alienação.
O internamento não é o primeiro esforço na direção da hospitalização da loucura, constitui uma homologação dos alienados aos outros correncionais da época.
Ser tratado como os outros insanos, não significa submeter-se a tratamento médico, mas sim seguir o regime da correição, obedecer as leis de sua pedagogia, destinando-se a corrigir um sábio arrependimento. O tempo que marca e limita o internamento é sempre apenas o tempo moral das conversões e da sabedoria, tempo para que o castigo cumpra seu efeito.
Somente no começo do século XV é que se observa a presença de loucos nos hospitais, passando a ser reconhecido de um outro modo, reagrupado segundo uma nova ordem específica, atribuindo um estatuto exatamente médico.
A consciência médica estava implicada em todo julgamento sobre a alienação. Apenas o médico é competente para julgar se um indivíduo esta louco e em que grau de capacidade lhe permite sua doença.
A vida do indivíduo, seu passado, os juízos que se puderam formar sobre ele a partir da infância, tudo isso cuidadosamente pesado pode autorizar o médico a fazer um juízo e decretar a existência ou ausência da doença. È necessário determinar quais as faculdades atingidas e interrogar e determinar se pode atribuí-las à loucura.
Cabe ao médico descobrir as marcas indubitáveis da verdade ou nos introduzir no mundo da loucura.
Achei bastante interessante este artigo e coloquei um trecho dele, que falade Lima Barreto, alguém que sofre os delirios da loucura e ao mesmo tempo os observa.

Gislene Maria Barral Lima Felipe da Silva, 2008 In http://www.posgrap.ufs.br/periodicos/interdisciplinar/revistas/ARQ_INTER_5/INTER5_Pg_125_154.pdf, Acesso em 21/10/2010.



De resto, a multiplicidade das formas e manifestações da loucura é fixada por Lima Barreto ao apresentar o hospício como um jardim de espécies, tal qual propunha Foucault em sua monumental História da loucura na Idade Clássica, no capítulo que se intitula sugestivamente “O louco no jardim das espécies” (1991, p. 177-208).
Buscando organizar o mundo das doenças, espaço onde a loucura acabara de se inserir, a ciência oitocentista segue a ordem classificatória dos vegetais, agrupando sintomas, causas e tratamentos para as manifestações de desordens mentais no indivíduo, assim como dispõe as famílias, gêneros e espécies em um esquema geral do reino vegetal. Desse modo, entra em cena uma função moral da ciência que, ao conferir à loucura uma proximidade com a categoria vegetal ou animal, elimina seu caráter de fenômeno intrínseco ao ser humano, como Lima Barreto já reconhecia, sem grande esforço filosófico: a loucura se reveste de varias e infinitas formas;é possível que os estudiosos tenham podido reduzi-las em uma classificação, mas ao leigo ela se apresenta como as árvores, arbustos e lianas de uma floresta; é uma porção de cousas diferentes (CV, p. 187).

Desinstitucionalizaçao da loucura e paradigmas modernos

Capacidades intelectuais sao supervalorizadas em nossa sociedade, esta mesma sociedade a que Adorno atribui fechamento, onde os modelos precisam ser enquadrados. Competitividade, beleza fisica, individualidade e independencia ,sao padrões deste enquadramento; significa entao que o individuo que nao preenche estes requisitos está .....excluso, em situação de exclusão; é amaldiçoado e infeliz porque tem que lidar com muitas contingencias, nao bastassem as necessarias, ele tem essas agregações das quais nao pode livrar-se, senao com a ajuda do sistema que tem saídas para esses problemões: produtos farmaceuticos, cosméticos intervenções, tudo em favor....do enquadramento, de deixar a exclusão e pertencer; neste ambiente pessoas portadoras de algum tipo de limitação, são vistas como problema e são altamente desvalorizadas. A palavra para mediar esta distancia intransponivel, seja para o portador da limitação seja para o que não comtempla o limitado é inclusão. Sao movimentos oriundos da década de 70.
Com a medicalização destas e de outras limitaçoes a Filosofia ocupou-se dos espaços de discussao, sempre de namoro com a ciencia que afinal tambem tem poderes de excluir. A elaboração, a produção do conhecimento precisa ser pertinente à comunidade cientifica e embora paradigmas sejam flexibilizados no ambito das Sociais, é sempre um processo de acrescer e complementar, discutir resultados anteriores, relacionando, continuando ainda que não linearmente.
Agora como Darwin observou e classificou a natureza, este também é um bom modelo para este fenomeno mutante que é a loucura através dos tempos. Nada mais lógico entao que ela migrasse do ambiente social para o epstemologico; agora não embarcamos sem destino os loucos, nem os confinamos, mas os entregamos aos ditames da Filosofia que se ocupa deles, no aspecto interno, social e historico, e junto com a psicologia quer apreender os modos de funcionamento do individuo, seus sofrimentos conforme a pesquisa. Se o individuo pode compreender seus proprios processos, então o psicólogo com a ajuda do filosofo, achou seu modo de estar no mundo, ser do mundo, juntamente com o louco e o que sofre as agruras da exclusao.
Presente fortemente no social, ambiente de conflitos e adoecedor para o sujeito, Pichon
nos presenteia com novos aspectos de questões antigas. Este mesmo ambiente que o individuo partilha com os demais de sua espécie pode ser curativo e adoecedor; gerador dos conflitos de proximidade e pertinencia, o sujeito precisa ser tratado no grupo, é sua chance, diz Pichon Riviere, já que o processo de subjetivaçao é tambem social.

Assim fica compreenssivel porque independencia intelectual é tao valorizada. Assim descobrimos os dominios do saber, que sem dominar o problema, domina a discussão dele.

Postado por Rosa F F Oliveira

Das Vantagens de Ser Bobo

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro.

Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

Clarice Lispector


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Foucault e o conceito de loucura

 

Profª. Inês Lacerda Araújo

FILOSOFIA DE TODO DIA

Em sua tese de doutorado A História da Loucura na Idade Clássica ( 1961), Foucault trata de um tema estranho à academia e que inova no modo de abordar a loucura. Ele a situa na história a partir do século 15, até o tratamento asilar que surge em fins do século 18 e que se transforma no hospital psiquiátrico moderno.

O rosto, os gestos e atitudes da loucura sempre foram reconhecidos, mas o modo de "tratar" e de lidar com a loucura sofreram transformações que seguem ou são criadas por diferentes necessidades sociais e econômicas. Nem sempre o louco foi percebido como doente mental, alvo de intervenção médica. A "Nau dos Loucos" no fim da Idade Média (quadro acima de Bosh), percorria os portos e ora deixava essas estranhas figuras para serem encarceradas, ora seguia com elas de porto em porto, sem que representassem uma ameaça à razão ou à ordem social. Isso só aconteceu mais tarde, com a criação do Hospital Geral, que como o nome indica, encarcerava doentes, vagabundos, loucos. Os mais violentos eram presos a correntes, o chão era feito de tábuas vazadas para que as fezes caíssem na palha.

Prender ou não e quem prender, dependia da falta ou excesso de mão de obra. Olhar e intervir no Hospital Geral se deveu, em parte, aos protestos de presos políticos da Revolução Francesa, que exigiam tratamento diferenciado daquele dado aos pobres e delirantes. Finalmente os loucos foram separados dos demais. Na França, Pinel inaugura o asilo, o mesmo fez Tuke na Inglaterra. A obediência, o rigor disciplinar, o poder do médico de acalmar o doente, fazer com que ele reconhecesse seu "erro", olhar a si mesmo e acabar por admitir que delirava, voltar à realidade, tudo isso põe a loucura num novo patamar, o do olhar objetivador, médico, científico. O louco é libertado das correntes e preso a um novo ordenamento de saber: a loucura se torna doença mental.

O passo seguinte para as instituições psiquiátricas que combinam a hierarquia do asilo com choque, química e intervenções cirúrgicas foi o que o próprio Foucault verificou, logo após se formar em filosofia pela Sorbonne, quando foi voluntário no Hospital Sainte-Anne.

O sofrimento do doente, o internamento, como tratar, se há tratamento, o que é doença mental, como diagnosticar, todas essas questões são hoje levantadas. Não há resposta clara. Há um lado trágico da loucura presente nas obras literárias, na pintura, no cinema. Há outro lado em que se pretende enquadrar como doença sujeita a algum tipo de intervenção.

Em suma, pouco sabemos, somos confrontados com pessoas e seu sofrimento. A situação é melhor quando se recusa o conceito de loucura e se prefere o de doença mental? O que é o físico e o mental? O que é comportamental e o que é experiência pessoal? Com tantas dúvidas, que se tenha, pelo menos, cautela. Para Foucault são acontecimentos na ordem do saber que têm efeitos de poder.

*** * ***

* Inês Lacerda Araújo - filósofa, professora e autora, entre outros, de Foucault e a crítica do sujeito (Curitiba: Ed. da UFPR, 2008).

sábado, 16 de outubro de 2010

Contos Proibidos do Marquês de Sade

Pessoal!
Lendo os capítulos 3 e 4 não pude deixar de lembrar deste filme, vale a pena ver!

Titulo original: Quills
Gênero: Drama
origem: EUA/2000
duração: 123 min

Sinopse: Os seres humanos sempre questionaram através da história, a sociedade e seus limites de moralidade. Em pleno século 18, em meio a sangrenta Revolução Francesa, um dos mais perigosos dessidentes foi, sem dúvida, O Marquês de Sade, que originou o termo sadismo.
Sade era uma pessoa contraditória. Algumas vezes era brilhante e sensível. Outras era egoísta e demoníaco. Foi tão escandaloso que continua a chocar a todos no século 21 e o seu legado ainda promove debates sobre o que fazer com aqueles que exploram alegremente os mais sinistros tabus.
O verdadeiro Marquês de Sade nasceu em 1740 em Paris e viveu durante um dos períodos mais tumultuados da história da França. Ficou conhecido pela palavra cuja criação foi inspirada nele: o sadismo, referindo-se aos prazes sexuais derivados da dor. Mas Sade foi muito mais do que um experimentador sexual. Foi um escritor que ficou preso por 27 anos pelo crime de escrever sobre o lado mais negro do ser humano. Em 1772, foi setenciado à morte por crimes sexuais e escapou abertamente. Mais tarde, tornou-se um revolucionário e, novamente, escapou da guilhotina. Publicou romances eróticos, foi banido da administração de Napoleão e passou os últimos anos de sua vida num asilo. Marquês de Sade transformou-se em um mito.

Vale lembrar que o Marquês de Sade era burguês e pertencia a corte francesa, considerado por muitos um louco devasso mas para outros com afinidades dentro de um universo perigoso e fechado um sujeito inteligente, conseguindo desta forma manter-se vivo e enclausurado, deixando para seus afins um legado de contos eróticos.

A Ética do Desatino e o Escâdalo da Animalidade

“E o louco, percorrendo até o furor da animalidade a curva da degradação humana, desvenda esse fundo de desatino que ameaça o homem e que envolve, de há muito, todas as formas de sua existência natural” (p. 159).

A discussão sobre a questão da animalidade foi essencial no texto, e podemos trazê-la para várias áreas de nosso percurso de estudos psicológicos e filosóficos. O texto Animots: um exercício de leitura dos animais, de Eduardo Jorge, faz uma reflexão um tanto poética acerca do trabalho de Jacques Derrida, chamado O animal que logo sou, discorrendo sobre a animalidade sob diversos pontos de vistas. É essencial para nós, que aos poucos construímos nosso blog, pois faz justamente contrapontos com A história da loucura de Michel Foucault, na Idade Clássica até a contemporaneidade.

A seguir, destacarei alguns dos pontos principais desta leitura. Façam bom proveito!

Derrida nos pede para renunciar ao saber, saber esquecer o saber. Renunciar ao saber: existe algo que nos aproxime mais do animal? E aqui é interessante pensar na desarticulação de um discurso que torna o homem animal.

Michel Foucault na História da loucura trata bem desta questão do louco, este Outro vivendo como um animal. Assim, a relação entre asilos e zoológicos tem um desígnio carcerário comum para encerrar ali uma animalidade.

“A animalidade na idade clássica perdeu seu indício de além da vida medieval e agora figura-se como a loucura do homem encerrando ele em si mesmo em um estado natural. Nas palavras de Foucault, a animalidade despoja o que há de humano no homem, chegando a estabelecê-lo no grau zero de sua própria natureza. Mesmo assim, essa animalidade chegava a protegê-lo contra o que poderia existir de frágil, precário e doentio no e do próprio homem (...).”

“Com uma desconfiança diante da linguagem e de sua pseudo-evidência, que o homem chama de seu mundo, seu saber, sua história e sua técnica, que Derrida afronta os sinais prévios dessa relação homem-animal: o animal (alogon) se encontra, segundo Heidegger, privado de acesso, em sua abertura mesma, ao ser do ente enquanto tal, ao ser tal, ao “enquanto tal” do que é. A tristeza, o luto, a melancolia da natureza ou da animalidade nasceriam assim, segundo Benjamin, desse mutismo, é certo, mas também, por isso mesmo, deste ferimento sem nome: ter recebido o nome. Ao se encontrar privado de linguagem, perde-se o poder de nomear, de se nomear, em verdade de responder em seu nome. (Como se o homem não recebesse também seu nome e seus nomes!).

“Segundo Derrida: ‘Animais selvagens. Com respeito aos animais selvagens, os sentimentos equívocos dos seres humanos talvez sejam mais irrisórios do que em qualquer outro caso. Há a dignidade humana (na aparência, acima de qualquer suspeita) mas não será preciso irmos ao jardim zoológico: por exemplo, quando os animais vêem surgir a multidão de criancinhas seguidas por papás-homens e mamãs-mulheres. Apesar das aparências, o hábito não consegue impedir um homem de saber que mente como um cão quando fala de dignidade humana no meio dos animais. Porque em presença de seres ilegais e profundamente livres (os únicos verdadeiramente outlaws), a mais equívoca das invejas ainda leva a melhor sobre uma estúpida sensação de superioridade prática (inveja que se manifesta nos selvagens sob a forma de totem que se dissimula, de um modo cômico, nos chapéus com penas das nossas avós de família). Com tantos animais no mundo só perdemos isto: a inocente crueldade, a monstruosidade opaca dos olhos que mal se diferencia de pequenas bolhas formadas à superfície da lama, o horror ligado à vida como uma árvore à luz. Restam os gabinetes, os bilhetes de identidade, uma vida de criados biliosos e, no entanto, sei lá que estridente loucura chega a parecer-se, durante certos desatinos, com a metamorfose’.

Obs: Pode ser encontrado no seguinte link: http://www.letras.ufmg.br/poslit/08_publicacoes_pgs/Em%20Tese%2014/TEXTO%2011.pdf

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Estratagema da própria loucura



"... Nesse ponto ainda inicial, a consciência da loucura está segura de si mesma, isto é, segura de não estar louca. Mas ela se precipitou, sem medida nem conceito, no próprio interior da diferença, no ponto mais acentuado da oposição, no âmago desse conflito onde loucura e não-loucura trocam sua linguaguem mais primitiva; e a oposição se torna reversível: nesta ausência de ponto fixo, pode ser que a loucura seja razão, e que a consciência da loucura seja presença secreta, estratagema da própria loucura." p. 166
...

Ceux qui pour voyageur s'embarquent dessus l'eau
Voient aller la terre et non pas leur vaisseau.
(Aqueles que para viajar embarcam sobre as águas
Vêem andar a terra e não sua nau.)... p.166
...
Mais plus tant je me lime et plus je me rabote
Je crois qu'à mon avis tout le monde radocte.
(Quanto mais me limo e mais me aplaino
Creio que a meu ver todo mundo desatina.)... p.167

Recortes sobre a consciência da loucura

Fiz uns recortes a respeito da consciência da loucura... do que achei interessante nessa minha primeira leitura:


“Qual é a figura da ciência, por mais coerente e cerrada que seja, que não deixa gravitar ao seu redor formas mais ou menos obscuras da consciência prática, mitológica ou moral? Se não fosse vivida numa ordem dispersa e reconhecida somente através de perfis, toda verdade acabaria adormecendo.“ p.165

“No entanto, talvez uma certa não-coerência seja mais essencial à experiência da loucura do que em qualquer outro lugar;” p.165

“... Mas o sentido da loucura numa determinada época, inclusive na nossa, não deve ser solicitado à unidade pelo menos esboçada de um projeto, mas sim a essa presença dilacerada.” P.166

Nos trás formas de consciências:

1. Consciência CRÍTICA da loucura;
2. Consciência PRÁTICA da loucura;
3. Consciência ENUNCIATIVA da loucura e
4. Consciência ANALÍTICA da loucura. (p.166 a 169)...

“Cada uma dessas formas de consciência é ao mesmo tempo suficiente em si mesma e solidária com todas as outras.” p. 169

“Mas nenhuma delas pode ser absorvida inteiramente por uma outra. Por mais íntimo que seja, o relacionamento entre elas nunca pode reduzi-las a uma unidade que as aboliria a todas numa forma tirânica, definida e monótona de consciência. É que por sua natureza, sua significação e fundamento, cada uma tem sua autonomia: a primeira delimita de imediato toda um região de linguagem onde se encontram e se defrontam ao mesmo tempo o sentido e o não-sentido, a verdade e o erro, a sabedoria e a embriaguez, a luz do dia e o sonho cintilante, os limites do juízo e as presunções infinitas do desejo. A segunda, herdeira dos grandes horrores ancestrais, retoma, sem saber, sem querer e sem dizer, os velhos ritos mudos que purificam e revigoram as consciências obscuras da comunidade; envolve em si toda uma história que não diz seu nome, e apesar das justificativas que ela mesma pode apresentar, permanece mais próxima do rigor imóvel das cerimônias que do labor incessante da linguagem. A terceira não pertence à ordem do conhecimento, mas do reconhecimento; é um espelho (como no Neveu de Rameau) ou lembrança (como em Nerval ou Artaud) – é sempre, no fundo, uma reflexão sobre si mesmo no momento em que acredita designar ou o estranho ou aquilo que nela existe de mais estranho; o que ela põe à distância, em sua enunciação imediata, nessa descoberta inteiramente perceptiva, era seu segredo mais profundo; e nessa existência simples e não na da loucura, que está presente como coisa oferecida e desarmada, ela reconhece sem o saber a familiaridade de sua dor. Na consciência analítica da loucura efetua-se o apaziguamento do drama e encerra-se o silêncio do diálogo; não há mais nem ritual nem lirismo; os fantasmas assumem sua verdade; os perigos da contranatureza tornam-se signos e manifestações de uma natureza; aquilo que evocava o horror convoca agora apenas as técnicas da supressão. A consciência da loucura não pode mais, aqui, encontrar seu equilíbrio a não ser na forma do conhecimento.” p.170

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Marco Aurélio Ferraz: "Rompendo Silêncios: alunos especiais narram suas histórias"

(...)

Costurado pela analogia ao mar e seus mistérios, navego no
movimento de idas e vindas, sem um porto estável onde aportar.
A Nau dos Insensatos que inspirou a introdução do referido projeto, é descrita por Michel Foucault em “A História da Loucura” (1961) e tem o mesmo sentido que as Naus dos loucos ou insensatos da Idade Média, “navios que carregavam insanos em
busca da razão”, um estranho barco que deslizava pelos rios e mares, levando uma carga insana, partia sem um rumo definido. Os tripulantes embarcavam em uma viagem sem fim, flutuando num mar sem fim, sem bordas, sem ancoragem.

Os alunos das escolas especiais, diferente dos loucos da Idade Média, foram nomeados Portadores de Necessidades Educativas Especiais e estão sendo “convidados” a embarcarem em uma Nau, em sentido metafórico, para um lugar pré-determinado, a escola regular, e, como os insensatos do início da modernidade, não escolheram partir nesta viagem, o convite para essa travessia foi feito por estranhos.

Ao chegar neste novo lugar, a escola regular, talvez sejam recebidos como estrangeiros, pois seu jeito de comunicar- se e aprender, são distintos. Alguns deles com seus corpos marcados são mais diferentes que os diferentes daquele lugar.

Com os estudos, tenho observado que o movimento dos alunos com deficiência mental, entre os fenômenos da inclusão e exclusão na escola regular e/ou na escola especial, tem tido visibilidade. É notório o aumento da clientela. Observando dados da vida escolar dos alunos, percebo que sua vida escolar é repleta de momentos onde os fracassos aparecem em destaque, obscurecendo de alguma forma as pequenas conquistas.

(...)

Não pretendo apresentar novas verdades, pois acredito que elas não existam, mas refletir sobre novas perspectivas que os Estudos Culturais permitem para tratar um tema tão importante como é a inclusão, vista neste projeto sob a ótica dos próprios alunos.

Inspirado pelas idéias de Michel Foucault, permito-me identificar esses alunos com os chamados anormais, considerando a busca insistente de colocá-los em uma determinada norma que os capture, que lhes normatize, para com isso conduzi-los à normalidade.
Pronunciado no Collége de France, de janeiro a março de 1975, o curso sobre “Os Anormais” dá continuidade às análises que Michel Foucault consagrou a partir de 1970, aprofundando questões como saber, poder, normalização e biopoder. É a partir de múltiplas fontes, jurídicas e médicas, entre outras, que Foucault aborda o problema desses indivíduos “perigosos” que no século XIX eram chamados de “anormais”, destacando a formação de um saber e de um poder de normalização. A partir dessa discussão poderia dizer que esses eram os indivíduos que de uma forma ou outra escapavam a uma norma, porém, eram capturados por outras, considerando que ninguém escapa a norma. Segundo o mesmo autor são três as figuras principais de caracterização dos anormais: os monstros, os incorrigíveis e os onanistas.

Sendo assim o indivíduo considerado anormal é aquele que segundo o referido autor deriva-se ao mesmo tempo da exceção jurídico-natural do monstro das multidões, dos incorrigíveis, detidos pelos aparelhos de adestramento, e do universal secreto das sexualidades infantis.

Na lógica de uma reflexão atual sobre a sociedade e o princípio de exclusão, ainda percebendo o quanto os discursos dos alunos da Escola Especial, estão envoltos nestas lógicas, reporto-me a época da alta Idade Média, na oposição razão e loucura. “O louco é aquele cujo discurso não pode circular como o dos outros”. Hoje os alunos com necessidades educativas especiais, poderiam ser facilmente comparados aos loucos da Idade Média, pois o olhar a eles lançado ainda é de estranheza, ainda é preciso romper as barreiras do silêncio, das palavras ingênuas, para que os mesmos possam ter na expressão desses discursos, as suas idéias compreendidas.

Pode ocorrer que sua palavra seja considerada nula e não seja acolhida, não tendo verdade nem importância, não podendo testemunhar na justiça, não podendo autenticar um ato ou um contrato, não podendo nem mesmo no sacrifício da missa, permitir a transubstanciação e fazer do pão um corpo; pode ocorrer também, em contrapartida, que se lhe atribua, por oposição a todas as outras, estranhos poderes, o de dizer uma verdade escondida, o de pronunciar o futuro, o de enxergar com toda ingenuidade aquilo que a sabedoria dos outros não pode perceber. (Focault.1970. p.11)

Apesar de considerar que o conceito de loucura aproxima-se muito mais da Doença Mental do que da Deficiência Mental, este termo é utilizado no texto como elemento de costura no resgate histórico das posições tomadas, em nome da normalidade, o que de fato aproximaria os indivíduos aqui estudados das duas
vertentes.

Em “A História da loucura” por exemplo, Foucault revela a trajetória dos muitos séculos, durante os quais a palavra do louco não era ouvida e se ouvida, o era com ouvido que a filtrava como dotada de uma razão ingênua ou astuciosa. O primeiro passo no estudo independência da condição da deficiência e doença mental ocorreu noinício do Século XIX, quando se estabeleceu a diferenciação entre idiotia e a loucura. Existe uma tendência mundial de estar reconhecendo o termo Doença Mental como transtorno Mental e Deficiência Mental como deficiência intelectual como um discurso diferente, do lugar de quem poderia exercer uma razão mais razoável do que a das pessoas razoáveis. Por volta do século XVIII a palavra dos loucos passa aser o mecanismo pelo qual era reconhecida sua própria loucura, então o que era dito é observado como e por que era dito, essa palavra passa a fazer a diferença.

(...)

(...)No entanto passei a observar que faltava nestes fóruns a fala dos alunos. Tal situação começou a fazer parte de minhas inquietações, perguntava-me: por que os alunos não são chamados a falar?. Será pela crença de que por serem deficientes mentais suas opiniões seriam teoricamente desprovidas de certa racionalidade, o que tornaria de
imediato sua fala sem sentido? Por essa fala não estar inscrita, em um padrão de normalidade, estaria em uma outra ordem do discurso, que não a esperada por quem faz as leis? Se considerarmos que há então um discurso capaz de contribuir para a qualificação do processo de inclusão, como dar visibilidade a este discurso?
(...)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Theodor Adorno

Sem fugir da dicotomia suscitada pelo assunto, os temas filosoficos abordam as consequencias dos movimentos e eventos geradores de repercussao; os que precisam parecer loucos e os que precisam que outros pareçam loucos, os loucos da vez,é preciso trazer à cena a Teoria Estética de Adorno, onde diz que a loucura da proposiçao contra a bárbarie atitudes bárbaras sao cabiveis, uma violencia que parecia legitima, após o nazismo e o stalinismo que pretendia mudar o mundo, nao reorientou sua investida e instaura-se uma nova dominaçao natural e ideológica em nome do progresso técnico e científico no controle da industria cultural.
Nao mais manicomios, mas um universo social hermético rigido, cujas poucas aberturas se podem dar pela criatividade, a arte que deseja representar o mundo, manifestaçao do espirito que pretende ser o que nao pode .....um ente definitivo, por enquanto.
htt://pt.wikipedia.org/wiki/theodor-adorno
Acessado as 14hs

O LOUCO ou O TOLO


Como todos sabem de meu interesse pelo TAROT, não poderia deixar de destacar esta carta tão representativa na minha vida hoje.
Tanto pela sua figura, como pela sua descrição, este arcano associa várias das pautas evidenciadas em sala sobre o tema "loucura" e sua história.
O Louco ou Tolo, número zero do baralho, é figura extravagante, sem senso de estética, sem critérios, conflitos nos seus sentimentos e a imagem da decadência. Por não ter um número, dá significado a LIBERDADE e olha para o infinito, nos mostrando que a vida é muito mais do que vemos e a felicidade pode estar além das aparências do dia a dia. Isso quer dizer que muitas vezes nos preocupamos com coisas superficiais e não percebemos o que realmente é importante.
Se torna mais fácil fazer a leitura desta carta quando estudamos a arqueologia do saber do filósofo Focault. A superficial experiência de 15 anos lendo o TAROT, não me trouxe tanto entendimento sobre esta carta, como agora, nesta apreciação crítica da obra "História da Loucura". Fico feliz de poder abrir meus horizontes e conseguir concatenar o TAROT e a PSICOLOGIA.

Afinal, o que foi a experiência Clássica da loucura?

"A loucura precisa da razão para dizer que não tem razão, excluindo a razão da loucura, aprisiona-se a loucura dentro da razão, é esse o deslocamento da percepção da experiência da loucura. Agora o estatuto da loucura é a razão, esse deslocamento na percepção no século XVII vai evidenciar o motivo da grande internação. A grande internação tem uma característica moral e social, moral no sentido de punição, e social no sentido de controle. Agora a percepção social do internamento é a resolução de problemas, não mais o caráter assistencialista da Igreja na Idade Média, e o caráter produtivista econômico da renascença, o internamento é uma função social produzindo uma segregação social e produzindo alienados, o louco passa a ser um alienado, aquele que não tem capacidade de decidir nada na sociedade, a segregação produziu o ser associal." MELO (2009)

"Afinal, o que foi a experiência Clássica da loucura? Um gesto de segregação no século XVII que produziu o alienado, o internamento e a exclusão, o domínio ético da loucura. A experiência Clássica da loucura não reside no fato do internamento, pois este já existia desde o século XIII, reside na criação da figura do alienado, reside no fato de que a loucura perdeu seu estatuto de igualdade frente à razão e passou a ser subsumido e submetido à razão. Com o desatino se tem algo diferente da loucura. A loucura é algo que nos padrões morais não se encaixa na sociedade burguesa, então vira desatino. A razão é estabelecida dentro do domínio moral da sociedade burguesa. Os três elementos básicos da experiência Clássica da loucura são: Alienação da razão, distanciamento da loucura e do louco pelo internamento, e sujeição como forma de controle. A experiência moral do desatino na Idade Clássica é o solo, a base para o entendimento da ciência, e só a partir do distanciamento e do encarceramento da loucura nos muros da razão, para permitir começar a entender e estudá-la como objeto de pesquisa científica. Para Foucault só existe o louco, a figura da loucura é criada no século XVII pela norma social. A insanidade no século XVII acaba ocupando o domínio moral, a partir desse domínio vai abrir as portas para os estudos da psicologia – o que se passa na psiquê, na alma humana; da psiquiatria – do corpo doente, a loucura como patologia; e pela psicanálise – uma arqueologia do inconsciente." MELO (2009)


FONTE: http://perolaspalavras.blogspot.com/2009/10/historia-da-loucura-na-visao-de-michel.html

POSTADO POR ELIANE ABREU

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

"Outra forma de alienação designa uma tomada de consciência através da qual o “louco” é “reconhecido, pela sociedade, como estranho a sua própria pátria: ele não é libertado de sua responsabilidade; atribui-se-lhe, ao menos sob as formas do parentesco e de vizinhanças cúmplices, uma culpabilidade moral; é designado como sendo o Outro, o Estrangeiro, o Excluído”."

Essa leitura me fez lembrar aquele livro: O Alienista, na certa algumas de vocês já leram... É do Machado de Assis se eu não me engano...

O protagonista que era um médico decidiu se aventurar pelo campo da psiquiatria e iniciou um estudo sobre a loucura e seus graus, classificando-os. Ele funda a Casa Verde, um hospício na vila de Itaguaí e abastece-o de cobaias humanas, para as suas pesquisas. Mas ele passa a internar todas as pessoas da cidade que ele julgava serem loucas; desde o vaidoso, o bajulador, a supersticiosa, a indecisa, e etc. Até a sua própria mulher fora internada... Para ele todos eram loucos... foi aplaudido de inicio, mas visto seus exageros nos internamentos gerou uma revolta entre os moradores... (algo assim, faz tempo que li o livro...)... Depois de um tempo ele repensa e inverte o seu critério para o internamento e decide internar a minoria, os ditos simples, leais, sinceros e etc. Até internar-se a si próprio... (português ruinzinho, né?! =p sorry...)...

“... percebe que os germes do desequilíbrio prosperam porque já estavam latentes em todos.”

Que critérios usamos no final das contas para designar alguém como louco??? Fugir do padrão?! Mas se pensarmos, em algum momento de nossas vidas nós fugimos deste padrão também, somos nós loucos, então?? O.o


Uma frase dita por Machado de Assis: "Se você não é um homem, então, não têm palavras o suficiente para falar a respeito de outros homens..."

domingo, 19 de setembro de 2010

Mundo Correcional

No processo de apropriação da loucura pela medicina o conceito de alienação tem um papel estratégico, no momento em que torna-se sinônimo de erro; algo não mais da ordem do sobrenatural, de uma natureza estranha à razão, mas uma desordem desta. A alienação é entendida como um distúrbio das paixões humanas, que incapacita o sujeito de partilhar do pacto social.
Alienado é o que está fora de si, fora da realidade, é o que tem alterada a sua possibilidade de juízo. Através do conceito de alienação o modo de relacionamento da sociedade para com a loucura passa a ser profundamente intermediado por uma ciência que, num primeiro momento, Philippe Pinel define como o alienismo. Se o alienado é incapaz do juízo, incapaz da verdade, é, por extensão, perigoso, para si e para os demais.
A argumentação de Pinel a favor da institucionalização tem como base dois pontos fundamentais relacionados ao conceito de isolamento. Por um lado, no princípio do hospital como lugar de exame, em que isolar é o a priori do conhecer, tal qual no método da Botânica de Lineu, explicitado por Pinel em seu Traité médico-philosophique sur l'aliénation mentale ou la manie como o método mais adequado à ciência. Por outro lado, o isolamento é terapêutico pois a instituição passa a ser organizada de forma a afastar as influências maléficas, morbígenas, que causam e agravam a alienação: a instituição é o instrumento de cura.
O isolamento, semelhante ao estado in vitro, afasta as influências maléficas e a contaminação. O afastamento serve para identificar diferenças entre os objetos. Distinguir os "mansos" dos "agitados", os "melancólicos" dos "sórdidos" e "imundos", os "suicidas", ou seja, esquadrinhar cada tipo classificável, evitando que sua convivência agrave seu estado. O hospício, através do isolamento terapêutico, permite a possibilidade da cura e do conhecimento da loucura a um só tempo. O isolamento é ao mesmo tempo um ato terapêutico (tratamento moral e cura), epistemológico (ato de conhecimento) e social (louco perigoso, sujeito irracional).

Essas operações, como princípios teóricos e atos institucionais propiciam um método; fazem "ver" diferente a figura do louco, agora um "alienado mental", produzem uma visibilidade específica sobre a loucura, construindo um estar louco e um ser louco diferente, no qual o tratamento fundamental é regrar novamente, "dobrar o alienado à razão", numa espécie de ortopedia da alma. Surge o mundo correcional, no qual a disciplina proporciona um retorno à razão. O conceito de "alienação" produz um lugar para o louco, excluído do pacto social, o lugar do sujeito da desrazão ou da ausência de sujeito - sujeito racional e responsável cívica e legalmente - sujeito delirante sem cidadania que deixa de ser um ator social para tornar-se objeto do alienismo.

A história do manicômio mostra como se criou o processo de lidar com o sujeito alienado, alheio, estrangeiro a si próprio, que não é sujeito. No manicômio coloca-se em funcionamento a regra, a disciplina e o tratamento moral para a reeducação do alienado, através do que se torna possível a construção do conceito de uma subjetividade alienada, desregrada. Ao mesmo tempo, a instituição torna-se o lugar de tratamento e a institucionalização, uma necessidade.

Eduardo Henrique Guimarães Torre
Paulo Amarante

sábado, 18 de setembro de 2010

Postado por Adriana Pereira

Nos capítulos 3 e 4 Foucault aborda o tema da internação como uma forma de eliminar, colocar a margem da sociedade aqueles que não correspondem as normas sociais, usando um discurso de “organização”, ignorando os “associais” em nome de uma “ética” que divide a razão e o desatinio ; o bem e o mal. Nesse contexto vale lembrar Freud no seu trabalho O mal estar da civilização, que encontrei num artigo da internet e fiz alguns recortes que achei interessante para complementar o assunto. Se alguém se interessar pode ler o artigo na integra

Artigos > Psicanálise e Psiquiatria > O BODE EXPIATÓRIO

O BODE EXPIATÓRIO

Publicado por Patricia em 7/5/09 (251 leituras)

José Del-Fraro Filho
Psiquiatra, Psicanalista
jose@patriciaejosedelfraro.com.br

Alguns recortes

No seu livro o mal estar da civilização, Freud levanta a questão do Super Ego cultural dizendo que este promove uma ética que regula os relacionamentos humanos e que tenta barrar a agressividade inerente a todo sujeito, substituindo-a por culpa. Para Freud a agressividade desse gesto da internação poderia passar despercebida, na medida em que usavam como pretexto o discurso de que era preciso aprisionar os que não amavam racionalmente. Em nome da sociedade e em nome do amor. Todo esse mecanismo em jogo ainda traria a vantagem de projetar no outro, os desejos, que agora dão contorno somente ao rosto do desatinado, se vendo livres de reconhecerem em si mesmos o mesmo rosto.

Depois usando os conceitos de Marilena Chauí na construção do fenômeno ideologia o artigo diz que A ideologia é o instrumento possível para a dominação das classes. se esta dominação for percebida, os explorados se sentirão no direito de recusa-la. Por isso seu papel é impedir isso, dissimulando e ocultando essa divisão social para esconder sua própria origem. Para isso transforma as idéias particulares de classe dominante em idéias universais válidas para todos.

A universalidade dessas idéias é abstrata, pois existem idéias particulares de cada classe, que faz com que enxerguemos somente a imediatez de uma realidade como algo dado, feito acabado, sem nunca nos indagarmos como foi construída.

Essa classe dominada se revolta com as injustiças sociais, com o desequilíbrio assolador visto em todos os níveis e sentidos na pele, mas consegue no máximo preceber pessoas que estão em nome dessa dominação como os políticos populistas e/ou pseudo-socialistas, mas não percebem que continuam presas nas artimanhas ideológicas. Presa por certos significantes universais já difundidos pela classe dominante.

Essas idéias que colocavam o homem clássico como o dono e o escravo da Razão, deparados de pessoas que a fabricaram, tiveram como uma dos resultados A Grande Internação que correspondeu não só como conseqüência delas, mas como sua própria confirmação e auto-afirmação.

O mundo correlacional funcionava não só como um remédio aos males do coração, mas como um remédio ao conferir pragmatismo à ideologia vigente, na medida em que se pode colocar em prática esse conjunto de idéias . Os “insanos” se, por um ângulo, eram vistos como “veneno” de uma sociedade burguesa e sua ideologia – veneno que podia corroer as estruturas sociais por outro lado, eram os “remédios” com o qual se encontrava alívio, pois com eles se colocava em pratica o estabelecido ideologicamente, fortalecendo-o.

E nos nossos dias?

A atuação de alguns setores do sistema de saúde e de alguns médicos não se presta como remédio só ao sofrimento mental, mas como eterno paliativo para não alcançarmos avanços, na medida em que são coniventes com a ideologia que se iniciou séculos atrás.
Não vemos introjetados os mesmos preconceitos daquela época, onde no gesto da internação se ocultava num gesto de agressividade incomensurável, de culpabilização (bode expiatório) e de pragmatismo de uma ideologia emergente?
Até onde o susto, o espanto de se deparar com a “loucura do Outro”, aguçando em maior ou menor intensidade nossos conflitos e com isso angústia, nos impede de prosseguir, desbravar novos caminhos?
Até que ponto utilizando-se de sutilezas, que não deixa de ser um excelente ingrediente ideológico, ainda não estamos mergulhados em certas práticas daqueles longínquos séculos, onde num certo dia os corações e a liberdade se viram aprisionados nas redes ideológicas?
Nos nossos dias é muito comum “chavões” do tipo:
. “Saúde um direito para todos...”
. “A internação, em certos casos, é a única saída...”
. “Dignidade ao doente mental, ao trabalho médico...”
Frases de efeito que atuam no imaginário do sujeito carente de soluções, frases formuladas pelos dominantes e utilizadas como mero instrumento ideológico. Em nome de alguma coisa que nunca se encontra com o bem-estar social. Avalanche ideológica que nos arrasta cada vez mais à alienação. Alienação esta, que certamente não se confunde com a alienação do Doente mental, mas talvez bem mais daninha. Impregnados por ela, não se pode mais traçar a linha de um rosto diferenciado. Algo da ordem de uma massificação, de uma “coisificação”, se configura numa única imagem: a do rosto-escravo, a do rosto-objeto, sem liberdade, sem cidadania, “parafuso dispensável numa sociedade tecnocrata. (ClariceLispector).”
E é interessante um aspecto que surge através desse comentário: O dito alienado mental, talvez, seja o único livre dessa mesma alienação, na medida em que se refugiando no mundo inconsciente é preso de suas próprias leis, não mais podendo ser analisado como o sujeito que compartilha os códigos de uma dada cultura, que colocaria este indivíduo em condições à rebeldia ou como elemento mantenedor da resignação, fruto último e mais nocivo da ideologia e da alienação. A alienação pode conduzir à morte do sujeito social.
E por fim quero apontar, mais uma vez, o risco que corre a Psiquiatria em nossos dias: ser colaboradora do processo ideológico quem mata o sujeito social transformando-o em objeto social: “Ideologia é um conjunto de idéias, de valores e condutas que prescrevem aos membros da sociedade o que se deve pensar, fazer, sentir, valorizar. Ela prescreve, normaliza, regula, dando aos membros da sociedade dividida por classes uma explicação racional para as diferenças sociais, políticas e culturais, sem jamais atribuir tais diferenças à divisão da sociedade em classes a partir da divisão na esfera da produção”. Pelo contrário, a função da ideologia é a de apagar as diferenças como a de classes, de oferecer aos membros da sociedade o sentimento da identidade social, encontrando certos referenciais identificadores de todos e para todos como, por exemplo, a Humanidade, Igualdade, Fraternidade, a Nação, a Família... Nascida por causa da luta de classe e da luta de classes, a Ideologia é um corpo teórico (religioso, filosófico, científico) que não pode pensar realmente a luta de classe que lhe deu origem. Por isso nunca diz tudo... Correria o risco de se arrebentar por dentro...
A Ciência pode se prestar ao serviço ideológico e muito... mas pode dizer e não dizer muito mais...
Se o psiquiatra em sua prática encarna o tempo todo e não questiona o chamado “Discurso de Mestre”, onde imaginariamente ocupa o lugar do saber absoluto, não estaria ele sendo, ao mesmo tempo, lacaio de sua própria onipotência e de armações ideológicas mascaradas com o respeitado rótulo de científicas?
E num último viés, o fato da Psiquiatria Biológica ter alcançado grandes avanços, pode servir, por exemplo, como faca de dois gumes: propicia avanços científicos, mas se tomada isoladamente pode ser terreno propício ao enraizamento ideológico. Pode cair num positivismo que tente justificar a miséria psíquica e social, passando por cima de um conjunto de complexos fatores, servindo como campo para práticas inadequadas e retrógradas. Pode servir como alimento a preconceitos e medidas punitivas destinadas às minorias discriminadas desde a Era Clássica. Neste caso, além da enorme contribuição, à manutenção ideológica e morte do sujeito social estaríamos colocando em risco a própria Psiquiatria, enquanto ciência que se presta a aliviar ou no mínimo não compactuar com o sofrimento humano. Aí nesse ponto, a Psiquiatria e o seu louco serviriam de remédio... De remédio a qualquer ameaça de mudança e reestruturação que se fizessem esboçar...