terça-feira, 21 de setembro de 2010

Theodor Adorno

Sem fugir da dicotomia suscitada pelo assunto, os temas filosoficos abordam as consequencias dos movimentos e eventos geradores de repercussao; os que precisam parecer loucos e os que precisam que outros pareçam loucos, os loucos da vez,é preciso trazer à cena a Teoria Estética de Adorno, onde diz que a loucura da proposiçao contra a bárbarie atitudes bárbaras sao cabiveis, uma violencia que parecia legitima, após o nazismo e o stalinismo que pretendia mudar o mundo, nao reorientou sua investida e instaura-se uma nova dominaçao natural e ideológica em nome do progresso técnico e científico no controle da industria cultural.
Nao mais manicomios, mas um universo social hermético rigido, cujas poucas aberturas se podem dar pela criatividade, a arte que deseja representar o mundo, manifestaçao do espirito que pretende ser o que nao pode .....um ente definitivo, por enquanto.
htt://pt.wikipedia.org/wiki/theodor-adorno
Acessado as 14hs

O LOUCO ou O TOLO


Como todos sabem de meu interesse pelo TAROT, não poderia deixar de destacar esta carta tão representativa na minha vida hoje.
Tanto pela sua figura, como pela sua descrição, este arcano associa várias das pautas evidenciadas em sala sobre o tema "loucura" e sua história.
O Louco ou Tolo, número zero do baralho, é figura extravagante, sem senso de estética, sem critérios, conflitos nos seus sentimentos e a imagem da decadência. Por não ter um número, dá significado a LIBERDADE e olha para o infinito, nos mostrando que a vida é muito mais do que vemos e a felicidade pode estar além das aparências do dia a dia. Isso quer dizer que muitas vezes nos preocupamos com coisas superficiais e não percebemos o que realmente é importante.
Se torna mais fácil fazer a leitura desta carta quando estudamos a arqueologia do saber do filósofo Focault. A superficial experiência de 15 anos lendo o TAROT, não me trouxe tanto entendimento sobre esta carta, como agora, nesta apreciação crítica da obra "História da Loucura". Fico feliz de poder abrir meus horizontes e conseguir concatenar o TAROT e a PSICOLOGIA.

Afinal, o que foi a experiência Clássica da loucura?

"A loucura precisa da razão para dizer que não tem razão, excluindo a razão da loucura, aprisiona-se a loucura dentro da razão, é esse o deslocamento da percepção da experiência da loucura. Agora o estatuto da loucura é a razão, esse deslocamento na percepção no século XVII vai evidenciar o motivo da grande internação. A grande internação tem uma característica moral e social, moral no sentido de punição, e social no sentido de controle. Agora a percepção social do internamento é a resolução de problemas, não mais o caráter assistencialista da Igreja na Idade Média, e o caráter produtivista econômico da renascença, o internamento é uma função social produzindo uma segregação social e produzindo alienados, o louco passa a ser um alienado, aquele que não tem capacidade de decidir nada na sociedade, a segregação produziu o ser associal." MELO (2009)

"Afinal, o que foi a experiência Clássica da loucura? Um gesto de segregação no século XVII que produziu o alienado, o internamento e a exclusão, o domínio ético da loucura. A experiência Clássica da loucura não reside no fato do internamento, pois este já existia desde o século XIII, reside na criação da figura do alienado, reside no fato de que a loucura perdeu seu estatuto de igualdade frente à razão e passou a ser subsumido e submetido à razão. Com o desatino se tem algo diferente da loucura. A loucura é algo que nos padrões morais não se encaixa na sociedade burguesa, então vira desatino. A razão é estabelecida dentro do domínio moral da sociedade burguesa. Os três elementos básicos da experiência Clássica da loucura são: Alienação da razão, distanciamento da loucura e do louco pelo internamento, e sujeição como forma de controle. A experiência moral do desatino na Idade Clássica é o solo, a base para o entendimento da ciência, e só a partir do distanciamento e do encarceramento da loucura nos muros da razão, para permitir começar a entender e estudá-la como objeto de pesquisa científica. Para Foucault só existe o louco, a figura da loucura é criada no século XVII pela norma social. A insanidade no século XVII acaba ocupando o domínio moral, a partir desse domínio vai abrir as portas para os estudos da psicologia – o que se passa na psiquê, na alma humana; da psiquiatria – do corpo doente, a loucura como patologia; e pela psicanálise – uma arqueologia do inconsciente." MELO (2009)


FONTE: http://perolaspalavras.blogspot.com/2009/10/historia-da-loucura-na-visao-de-michel.html

POSTADO POR ELIANE ABREU

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

"Outra forma de alienação designa uma tomada de consciência através da qual o “louco” é “reconhecido, pela sociedade, como estranho a sua própria pátria: ele não é libertado de sua responsabilidade; atribui-se-lhe, ao menos sob as formas do parentesco e de vizinhanças cúmplices, uma culpabilidade moral; é designado como sendo o Outro, o Estrangeiro, o Excluído”."

Essa leitura me fez lembrar aquele livro: O Alienista, na certa algumas de vocês já leram... É do Machado de Assis se eu não me engano...

O protagonista que era um médico decidiu se aventurar pelo campo da psiquiatria e iniciou um estudo sobre a loucura e seus graus, classificando-os. Ele funda a Casa Verde, um hospício na vila de Itaguaí e abastece-o de cobaias humanas, para as suas pesquisas. Mas ele passa a internar todas as pessoas da cidade que ele julgava serem loucas; desde o vaidoso, o bajulador, a supersticiosa, a indecisa, e etc. Até a sua própria mulher fora internada... Para ele todos eram loucos... foi aplaudido de inicio, mas visto seus exageros nos internamentos gerou uma revolta entre os moradores... (algo assim, faz tempo que li o livro...)... Depois de um tempo ele repensa e inverte o seu critério para o internamento e decide internar a minoria, os ditos simples, leais, sinceros e etc. Até internar-se a si próprio... (português ruinzinho, né?! =p sorry...)...

“... percebe que os germes do desequilíbrio prosperam porque já estavam latentes em todos.”

Que critérios usamos no final das contas para designar alguém como louco??? Fugir do padrão?! Mas se pensarmos, em algum momento de nossas vidas nós fugimos deste padrão também, somos nós loucos, então?? O.o


Uma frase dita por Machado de Assis: "Se você não é um homem, então, não têm palavras o suficiente para falar a respeito de outros homens..."

domingo, 19 de setembro de 2010

Mundo Correcional

No processo de apropriação da loucura pela medicina o conceito de alienação tem um papel estratégico, no momento em que torna-se sinônimo de erro; algo não mais da ordem do sobrenatural, de uma natureza estranha à razão, mas uma desordem desta. A alienação é entendida como um distúrbio das paixões humanas, que incapacita o sujeito de partilhar do pacto social.
Alienado é o que está fora de si, fora da realidade, é o que tem alterada a sua possibilidade de juízo. Através do conceito de alienação o modo de relacionamento da sociedade para com a loucura passa a ser profundamente intermediado por uma ciência que, num primeiro momento, Philippe Pinel define como o alienismo. Se o alienado é incapaz do juízo, incapaz da verdade, é, por extensão, perigoso, para si e para os demais.
A argumentação de Pinel a favor da institucionalização tem como base dois pontos fundamentais relacionados ao conceito de isolamento. Por um lado, no princípio do hospital como lugar de exame, em que isolar é o a priori do conhecer, tal qual no método da Botânica de Lineu, explicitado por Pinel em seu Traité médico-philosophique sur l'aliénation mentale ou la manie como o método mais adequado à ciência. Por outro lado, o isolamento é terapêutico pois a instituição passa a ser organizada de forma a afastar as influências maléficas, morbígenas, que causam e agravam a alienação: a instituição é o instrumento de cura.
O isolamento, semelhante ao estado in vitro, afasta as influências maléficas e a contaminação. O afastamento serve para identificar diferenças entre os objetos. Distinguir os "mansos" dos "agitados", os "melancólicos" dos "sórdidos" e "imundos", os "suicidas", ou seja, esquadrinhar cada tipo classificável, evitando que sua convivência agrave seu estado. O hospício, através do isolamento terapêutico, permite a possibilidade da cura e do conhecimento da loucura a um só tempo. O isolamento é ao mesmo tempo um ato terapêutico (tratamento moral e cura), epistemológico (ato de conhecimento) e social (louco perigoso, sujeito irracional).

Essas operações, como princípios teóricos e atos institucionais propiciam um método; fazem "ver" diferente a figura do louco, agora um "alienado mental", produzem uma visibilidade específica sobre a loucura, construindo um estar louco e um ser louco diferente, no qual o tratamento fundamental é regrar novamente, "dobrar o alienado à razão", numa espécie de ortopedia da alma. Surge o mundo correcional, no qual a disciplina proporciona um retorno à razão. O conceito de "alienação" produz um lugar para o louco, excluído do pacto social, o lugar do sujeito da desrazão ou da ausência de sujeito - sujeito racional e responsável cívica e legalmente - sujeito delirante sem cidadania que deixa de ser um ator social para tornar-se objeto do alienismo.

A história do manicômio mostra como se criou o processo de lidar com o sujeito alienado, alheio, estrangeiro a si próprio, que não é sujeito. No manicômio coloca-se em funcionamento a regra, a disciplina e o tratamento moral para a reeducação do alienado, através do que se torna possível a construção do conceito de uma subjetividade alienada, desregrada. Ao mesmo tempo, a instituição torna-se o lugar de tratamento e a institucionalização, uma necessidade.

Eduardo Henrique Guimarães Torre
Paulo Amarante

sábado, 18 de setembro de 2010

Postado por Adriana Pereira

Nos capítulos 3 e 4 Foucault aborda o tema da internação como uma forma de eliminar, colocar a margem da sociedade aqueles que não correspondem as normas sociais, usando um discurso de “organização”, ignorando os “associais” em nome de uma “ética” que divide a razão e o desatinio ; o bem e o mal. Nesse contexto vale lembrar Freud no seu trabalho O mal estar da civilização, que encontrei num artigo da internet e fiz alguns recortes que achei interessante para complementar o assunto. Se alguém se interessar pode ler o artigo na integra

Artigos > Psicanálise e Psiquiatria > O BODE EXPIATÓRIO

O BODE EXPIATÓRIO

Publicado por Patricia em 7/5/09 (251 leituras)

José Del-Fraro Filho
Psiquiatra, Psicanalista
jose@patriciaejosedelfraro.com.br

Alguns recortes

No seu livro o mal estar da civilização, Freud levanta a questão do Super Ego cultural dizendo que este promove uma ética que regula os relacionamentos humanos e que tenta barrar a agressividade inerente a todo sujeito, substituindo-a por culpa. Para Freud a agressividade desse gesto da internação poderia passar despercebida, na medida em que usavam como pretexto o discurso de que era preciso aprisionar os que não amavam racionalmente. Em nome da sociedade e em nome do amor. Todo esse mecanismo em jogo ainda traria a vantagem de projetar no outro, os desejos, que agora dão contorno somente ao rosto do desatinado, se vendo livres de reconhecerem em si mesmos o mesmo rosto.

Depois usando os conceitos de Marilena Chauí na construção do fenômeno ideologia o artigo diz que A ideologia é o instrumento possível para a dominação das classes. se esta dominação for percebida, os explorados se sentirão no direito de recusa-la. Por isso seu papel é impedir isso, dissimulando e ocultando essa divisão social para esconder sua própria origem. Para isso transforma as idéias particulares de classe dominante em idéias universais válidas para todos.

A universalidade dessas idéias é abstrata, pois existem idéias particulares de cada classe, que faz com que enxerguemos somente a imediatez de uma realidade como algo dado, feito acabado, sem nunca nos indagarmos como foi construída.

Essa classe dominada se revolta com as injustiças sociais, com o desequilíbrio assolador visto em todos os níveis e sentidos na pele, mas consegue no máximo preceber pessoas que estão em nome dessa dominação como os políticos populistas e/ou pseudo-socialistas, mas não percebem que continuam presas nas artimanhas ideológicas. Presa por certos significantes universais já difundidos pela classe dominante.

Essas idéias que colocavam o homem clássico como o dono e o escravo da Razão, deparados de pessoas que a fabricaram, tiveram como uma dos resultados A Grande Internação que correspondeu não só como conseqüência delas, mas como sua própria confirmação e auto-afirmação.

O mundo correlacional funcionava não só como um remédio aos males do coração, mas como um remédio ao conferir pragmatismo à ideologia vigente, na medida em que se pode colocar em prática esse conjunto de idéias . Os “insanos” se, por um ângulo, eram vistos como “veneno” de uma sociedade burguesa e sua ideologia – veneno que podia corroer as estruturas sociais por outro lado, eram os “remédios” com o qual se encontrava alívio, pois com eles se colocava em pratica o estabelecido ideologicamente, fortalecendo-o.

E nos nossos dias?

A atuação de alguns setores do sistema de saúde e de alguns médicos não se presta como remédio só ao sofrimento mental, mas como eterno paliativo para não alcançarmos avanços, na medida em que são coniventes com a ideologia que se iniciou séculos atrás.
Não vemos introjetados os mesmos preconceitos daquela época, onde no gesto da internação se ocultava num gesto de agressividade incomensurável, de culpabilização (bode expiatório) e de pragmatismo de uma ideologia emergente?
Até onde o susto, o espanto de se deparar com a “loucura do Outro”, aguçando em maior ou menor intensidade nossos conflitos e com isso angústia, nos impede de prosseguir, desbravar novos caminhos?
Até que ponto utilizando-se de sutilezas, que não deixa de ser um excelente ingrediente ideológico, ainda não estamos mergulhados em certas práticas daqueles longínquos séculos, onde num certo dia os corações e a liberdade se viram aprisionados nas redes ideológicas?
Nos nossos dias é muito comum “chavões” do tipo:
. “Saúde um direito para todos...”
. “A internação, em certos casos, é a única saída...”
. “Dignidade ao doente mental, ao trabalho médico...”
Frases de efeito que atuam no imaginário do sujeito carente de soluções, frases formuladas pelos dominantes e utilizadas como mero instrumento ideológico. Em nome de alguma coisa que nunca se encontra com o bem-estar social. Avalanche ideológica que nos arrasta cada vez mais à alienação. Alienação esta, que certamente não se confunde com a alienação do Doente mental, mas talvez bem mais daninha. Impregnados por ela, não se pode mais traçar a linha de um rosto diferenciado. Algo da ordem de uma massificação, de uma “coisificação”, se configura numa única imagem: a do rosto-escravo, a do rosto-objeto, sem liberdade, sem cidadania, “parafuso dispensável numa sociedade tecnocrata. (ClariceLispector).”
E é interessante um aspecto que surge através desse comentário: O dito alienado mental, talvez, seja o único livre dessa mesma alienação, na medida em que se refugiando no mundo inconsciente é preso de suas próprias leis, não mais podendo ser analisado como o sujeito que compartilha os códigos de uma dada cultura, que colocaria este indivíduo em condições à rebeldia ou como elemento mantenedor da resignação, fruto último e mais nocivo da ideologia e da alienação. A alienação pode conduzir à morte do sujeito social.
E por fim quero apontar, mais uma vez, o risco que corre a Psiquiatria em nossos dias: ser colaboradora do processo ideológico quem mata o sujeito social transformando-o em objeto social: “Ideologia é um conjunto de idéias, de valores e condutas que prescrevem aos membros da sociedade o que se deve pensar, fazer, sentir, valorizar. Ela prescreve, normaliza, regula, dando aos membros da sociedade dividida por classes uma explicação racional para as diferenças sociais, políticas e culturais, sem jamais atribuir tais diferenças à divisão da sociedade em classes a partir da divisão na esfera da produção”. Pelo contrário, a função da ideologia é a de apagar as diferenças como a de classes, de oferecer aos membros da sociedade o sentimento da identidade social, encontrando certos referenciais identificadores de todos e para todos como, por exemplo, a Humanidade, Igualdade, Fraternidade, a Nação, a Família... Nascida por causa da luta de classe e da luta de classes, a Ideologia é um corpo teórico (religioso, filosófico, científico) que não pode pensar realmente a luta de classe que lhe deu origem. Por isso nunca diz tudo... Correria o risco de se arrebentar por dentro...
A Ciência pode se prestar ao serviço ideológico e muito... mas pode dizer e não dizer muito mais...
Se o psiquiatra em sua prática encarna o tempo todo e não questiona o chamado “Discurso de Mestre”, onde imaginariamente ocupa o lugar do saber absoluto, não estaria ele sendo, ao mesmo tempo, lacaio de sua própria onipotência e de armações ideológicas mascaradas com o respeitado rótulo de científicas?
E num último viés, o fato da Psiquiatria Biológica ter alcançado grandes avanços, pode servir, por exemplo, como faca de dois gumes: propicia avanços científicos, mas se tomada isoladamente pode ser terreno propício ao enraizamento ideológico. Pode cair num positivismo que tente justificar a miséria psíquica e social, passando por cima de um conjunto de complexos fatores, servindo como campo para práticas inadequadas e retrógradas. Pode servir como alimento a preconceitos e medidas punitivas destinadas às minorias discriminadas desde a Era Clássica. Neste caso, além da enorme contribuição, à manutenção ideológica e morte do sujeito social estaríamos colocando em risco a própria Psiquiatria, enquanto ciência que se presta a aliviar ou no mínimo não compactuar com o sofrimento humano. Aí nesse ponto, a Psiquiatria e o seu louco serviriam de remédio... De remédio a qualquer ameaça de mudança e reestruturação que se fizessem esboçar...


REFLEXÃO ?

No cap. 4, na pág. 134, Foucault, nos coloca o conceito tão estranho da alienação psicológica, acorrentando sempre o outro em relação a sua liberdade. O louco, todos que naquele momento histórico gritam contra o controle e repressão, o que o racionalismo autorizou entre o castigo e o remédio de acordo com o cap. 3 na pág. 87, o gesto que pune e o gesto que cura.

Hoje ainda temos em nossa sociedade castigos e remédios, quando, por exemplo, além da palmada tão discutida hoje em dia contra a criança, aquela que não tem como se defender, a palmada psicológica que castiga, que sugere o medo, a coerção. Dogmas e rotulações feitas que restringem a capacidade da análise e reflexão, colocados de tal forma que inibem o ser pensante de pensar. E que tal os hiper-reativos em vez dos hiper-ativos?

Quem deixa quem louco? Luis Antônio Baptista, em seu texto “A atriz, o padre e a psicanalista – os amoladores de facas” nos diz:

“O fio da faca que esquarteja, ou o tiro certeiro nos olhos, possui alguns aliados, agentes sem rostos que preparam o solo para esses sinistros atos. Sem cara ou personalidade, podem ser encontrados em discursos, textos, falas, modos de viver, modos de pensar que circulam entre famílias, jornalistas, prefeitos, artistas, padres, psicanalistas, etc. Destituídos de aparente crueldade, tais aliados amolam a faca e enfraquecem a vítima, reduzindo-a a pobre coitado, cúmplice do ato, carente de cuidado, fraco e estranho a nós, estranho a uma condição humana plenamente viva.”

A falta de algo, um laço partido, isso leva as pessoas a sala de terapia seja ela qual for, a uma religião ou a qualquer outra situação que a faça procurar esse depender.

Vejo que toda a dependência é a falta de algo, um desejo que não é satisfeito, onde o sujeito busca suprir, Freud diria que é sublimar, direciona o desejo para outra coisa. mas a questão é a falta de que? Pulsão de vida, pulsão de morte? Mas essa falta parece-nos a falta de alguém, já que o homem é um ser social e precisa constantemente estar sendo exaltado, isto é se sentir alguém e não um ninguém, precisa ser em vez de ter, num universo tão complexo, e a falta desse ser e estar como potência, como um ser reconhecido que muitas vezes é ressachado pelo outro, o outro que depende, que o leva a condições muitas vezes patológicas ou poderíamos dizer nos dias de hoje ´´normais``, porque poucos são os enaltecidos. Esses seriam os anormais, gozando de toda condição de superioridade, de ter o tão desejado valor, e então procurar o ter em vez do ser.

Daí as doenças da dependência. Dependências não satisfeitas, dor que invade a alma, a falta, que precisa ser preenchida de diversas formas, e assim substituída por diversas maneiras que preenchem essas brechas para o não pensar, e se não preencher entra num sistema de insatisfação, levando as tristezas dessa falta, que já não mais reconhece.

Mas e se tiver tudo isso suprido, o homem consegue ir em frente?Ou se acomoda de todas as lutas, Então esse é o excitamento a que o homem é levado em busca de suas escolhas e de seus projetos? È necessário? Qual seria a dose?

E porque adoece? Não acha mais projeto, não tem mais excitamento, nada mais lhe é interessante? E quando isso acontece? Seria o não ser notado, desvalorizado, a falta?

Pichon concebe o vínculo como uma estrutura dinâmica em contínuo movimento, que engloba tanto o sujeito como o objeto e afirma que esta estrutura dinâmica apresenta características consideradas normais e alterações interpretadas como patológicas. Considera um vínculo normal àquele que se estabelece entre o sujeito e um objeto quando ambos têm possibilidades de fazer uma escolha livre de um objeto, como resultado de uma boa diferenciação entre ambos.

E nenhum paciente apresenta um tipo único de vínculo: todas as relações de objeto e todas as relações estabelecidas com o mundo são mistas. Existe uma divisão que é mais ou menos universal, no sentido de que por um lado se estabelecem relações de um tipo, e por outro, de um tipo diverso. ( Pichon-riviére, 1991) sendo assim, uma pessoa pode estabelecer um vínculo paranóico por um lado, e por outro um vínculo normal ou ainda um vínculo tendendo à hipocondria, isso porque as relações que o sujeito estabelece com o mundo são variadas, bem como as estruturas vinculares que utiliza.

De Certeau no discurso do homem ordinário, nos fala das caças não autorizadas a que o homem recorre num ir e vir no seu cotidiano e este esta movido pelo excitamento do querer e do ser no sobreviver usando de táticas que me reporta a Derrida nos colocando diante do advém, desconstruindo lógicas intruncadas posicionadas que estão além do bem e do mal, fazendo-nos refletir que justiça é diferente de direito, e o bicho homem movido por um desejo de ser estará confrontando para deixar de ser um apenas cada um , levando o homem na representação diária dos papéis, trazendo o olhar de Foucault diante da loucura que nos atrela a realidade pragmática e dogmática da punição social que coloca os sujeitos num devido lugar para conforto de alguns, sempre substituindo os momentos de um a outro, na necessidade complexa do penalizar alguém.

E como tudo depende, depende da cultura, depende do momento, depende de quem e de como, e assim a loucura também depende. E fica aqui a pergunta depende de que?

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

capítulos 3 e 4

Postando para - Juliana Oliveira

Resenha dos capítulos 3 e 4 do livro “História da Loucura”,
de Michel Foucault


Segundo Foucault, no capítulo “O Mundo Correcional” do livro a “História da Loucura”, o internamento dos doentes mentais seria uma eliminação espontânea dos que estão fora do padrão. “...aqueles que, não sem hesitação, nem perigo, distribuímos entre as prisões, casas de correção, hospitais psiquiátricos ou gabinetes de psicanalistas”. O internamento acabou funcionando como um mecanismo social, ou seja, permite com que a sociedade elimine grupos com elementos “a-sociais”.
Após um processo de exclusão despercebida, a sociedade deu-se conta de que o internamento não representou somente um papel negativo de exclusão, mas sim um papel positivo de organização. As práticas e regras impostas constituíram um domínio social, que fez com que houvesse uma aproximação entre os personagens e valores pertencentes a sociedade, sendo necessária toda uma reorganização ética e até mesmo uma reestruturação.
“...certas formas de pensamento “libertino”, como a de Sade, têm algo a ver com o delírio e a loucura; admitir-se-á de um modo igualmente fácil que magia, alquimia, práticas de profanação ou ainda certas formas de sexualidade mantêm um parentesco direto com o desatino e a doença mental”. Essas crenças acabam ocupando espaço agregadas aos símbolos da loucura.
Após 1590, se codificou a intenção dos castigos – chicotadas, medicamentos tradicionais e sacramento da penitência. “A intenção do castigo e do castigo individual, torna-se então bastante precisa”, pois o castigo deixou de ter um caráter obscuro. O flagelo passou a designar uma culpabilidade. “...o “grande mal” só exige esses ritos de purificação porque se origina nas desordens do coração, e porque pode ser assimilado ao pecado definido pela intenção deliberada de pecar”.
A repressão do pensamento e do controle da expressão ocorre somente com o objetivo de conduzir o doente mental de volta à verdade, através do constrangimento moral.
Foucault finaliza o capítulo escrevendo que a liberdade “data o momento em que o homem europeu deixa de experimentar e compreender o que é. (...) Esse momento é simbolizado por um estranho encontro: o do homem, que sozinho, formulou a teoria dessas existências do desatino e um dos primeiros homens que quis fazer da loucura uma ciência positiva”, ou seja ocultar os propósitos do contra-senso e escutar somente as patologias da loucura.
No capítulo 4, “Experiências da Loucura”, Foucault aborda que por ter-se conhecido mal a natureza, a raiz da loucura, os signos positivos foram ofuscados, fazendo com que as formas de agir e aplicar fossem feitas de maneira geral e diversificadas, quanto ao internamento.
Os cuidados médicos são inseridos à prática do internamento com a finalidade de prevenção sob alguns efeitos, não fazendo parte do projeto de internação. “O internamento destina-se a corrigir, e se lhe é fixado um prazo, não é um prazo de cura mas, antes, o de um sábio arrependimento”. As casas de internação tinham aspecto de prisão, fazendo com que o tempo destinado aos doentes mentais fosse um tempo moral das conversões e da sabedoria, tempo suficiente para que o castigo cumpra o efeito “necessário”.
Não há uma única experiência formulada pela Renascença sobre a loucura, o que há é o desejo de evolução e desenvolvimento para atingir uma forma mais acabada e mais complexa. O autor afirma que “as forças que se encontram em jogo na história não obedecem nem a uma destinação, nem a uma mecânica, mas ao acaso da luta”.
Em relação à internação, dois domínios foram reconhecidos: um é considerado como limitação da subjetividade, onde a alienação designa um processo onde o sujeito se percebe diferente de sua liberdade “através de um duplo movimento: aquele, natural de sua loucura, e um outro, jurídico, da interdição geral, que o faz cair sob os poderes de um Outro: o outro em geral, no caso representado pelo curador”. Outra forma de alienação designa uma tomada de consciência através da qual o “louco” é “reconhecido, pela sociedade, como estranho a sua própria pátria: ele não é libertado de sua responsabilidade; atribui-se-lhe, ao menos sob as formas do parentesco e de vizinhanças cúmplices, uma culpabilidade moral; é designado como sendo o Outro, o Estrangeiro, o Excluído”.

Apreciação Crítica

Lembrando que aqui estão minhas opiniões pessoais acerca da leitura , que não estão livres de interpretações equivocadas. O importante é que podemos discutir mais tarde sob os diferentes pontos de vista.

Referente aos capítulos III e IV do livro “A história da loucura na Idade Clássica”, de Michel Foucault.

Michel Foucault parte da noção de homem da época estudada (séculos XVI,XVII, XVIII...), noção de cidadão que se formava, isto é, a participação, o papel do homem dentro das normas em que lhe eram (e sempre foram) impostas. A história da loucura, como tratou nos dois capítulos anteriores, vem principalmente da construção da história da sociedade que se viu necessitada, em certo momento, de uma ordem fabricada a partir dos desejos principalmente estéticos de uma minoria social autoritária.

No capítulo III, “O mundo correlacional”, Foucault resgata a discussão acerca das internações nos séculos XVII e XVIII ao citar o fator (e valor) social da questão. A internação daqueles ditos loucos teria como propósito livrar a cidade (e a burguesia) dos “perigos” correspondentes às “loucuras” dos homens: a desordem familiar e social. Questiona sobre até que ponto esse “mal-estar da sociedade” (p. 80) seria defendido e aceito pela medicina da época, que, muito provavelmente, beneficiou-se desses fatos para crescer como ciência (justamente a ciência do bem-estar). Surge então a alienação não só dos próprios alienados, mas de toda a sociedade, e ainda hoje se vêem reflexos da mesma.

O autor afirma “o internamento não representou apenas um papel negativo de exclusão, mas também um papel positivo de organização” (p. 83). Organização somente devido ao fato de que a política ainda vinha se desenvolvendo, mas a exclusão por si já anula uma ideia de organização. A sociedade se desorganiza cada vez em que não evolui diante das adversidades, como a doença e o sofrimento, e regride a partir do momento em que decide ignorá-las. Não havia tratamento nas internações, apenas o afastamento de pessoas com “desvios” sexuais, pessoas que não seguiam a religião predominantemente Católica, os pecadores desta mesma religião, pessoas com doenças venéreas, devassidão, dentre outras categorias que passaram a ser julgadas moralmente a partir de então. “O sistema de repressão (...) como conduta moral, o conduzirá progressivamente para os limites de uma psicologia” (p. 95): talvez esse tenha sido o grande legado da Idade Clássica. E como negar que hoje cada um de nós carrega um pouco de libertino, um pouco de neurose, como “uma experiência comum da angústia” (p. 108)?

Os hospitais de internação eram superlotados (como visto em “Experiências da Loucura”, capítulo IV), e mantinham pessoas sob condições sub-humanas, muitas delas condenadas pela própria justiça a permanecerem por lá pelo resto das vidas, sem ao menos uma perspectiva de tratamento. Foucault comenta o pertencimento desses casos à polícia (ou seria à polícia?), que não dava conta da demanda dos loucos, apenas praticavam os exercícios do sistema. Provavelmente a medicina moderna tenha se beneficiado com esse caminho pelo qual percorreu, mas é evidente que esta não tinha estrutura para recebê-los. Mais tarde problematizariam, de forma também ética, o papel moral e social que trouxe todo esse processo de condenação da loucura e ainda o modo como ocorreu e suscitou sua exclusão generalizada (que deixa suas marcas até os dias de hoje, mas que muito beneficiou a evolução das ciências).


Comentem!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010


"A água e a navegação tem realmente esse papel. Fechado no navio, de onde não se escapa, o louco é entregue ao rio de mil braços, ao mar de mil caminhos, a essa grande incerteza exterior a tudo. É um prisioneiro no meio da mais livre, da mais aberta das estradas: solidamente acorrentado à infinita encruzilhada. É o Passageiro por excelência, isto é, o prisioneiro da passagem. E a terra à qual aportará não é conhecida, assim como não se sabe, quando desembarca, de que terra vem. Sua única verdade e sua única pátria são essa extensão estéril entre duas terras que não lhes podem pertencer." (p. 12).

ESTAMIRA - DOCUMENTÁRIO IMPERDÍVEL




QUEM PUDER ACHAR E SOUBER COPIAR ESTE DOCUMENTÁRIO PARA FUTURO DEBATE NUMA EVENTUAL OFICINA...SERIA DE MUITO VALOR PARA NOSSO APRENDIZADO!!!

LEIAM A CRÍTICAS DO FILME: http://www.cinemaemcena.com.br/estamira/blog.asp

BJINHOS

KATIA

sábado, 11 de setembro de 2010

Qualquer amor!!!!

Só se pode viver perto de outro, e
conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor.
Qualquer amor já um pouquinho de saúde,
um descanso na loucura.

João Guimarães Rosa
Grande Sertão Veredas (1956)


Mas como ter amor, se o outro não se torna referência? Se não tenho o direito de me perceber e de me conhecer no outro? Na sociedade insana de outrora, o discurso da loucura, interage na singularidade do sujeito.
Saúde /doença, estigmatizados no espaço de conveniências e inconveniências de um sujeito ordinário, deslocado pela insensatez do(s) Sábi(s)o!

Um olhar sobre a loucura de Foucault

Sabrina Camargo
Científico, ano III, v. I, Salvador  jan./jun., 2003.



Em seu livro História da Loucura, Foucault apresenta o fenômeno da loucura desde o Renascimento até o seu total estabelecimento na sociedade. Sendo que, não só a maneira de o homem lidar com a loucura sofreu transformações com o passar dos séculos, mas também o modo como esta foi encarada pela razão.

Toda sua narrativa começa com a disseminação da lepra através das cruzadas que trouxe do Oriente, principal foco de contaminação da doença que começou a se espalhar rapidamente por toda a Europa. Inúmeros estabelecimentos precisaram ser construídos para abrigar tanta gente.

Com falsas idéias e muita hipocrisia, a Igreja afirma que, embora afastados da Igreja e das outras pessoas, os leprosos não estão afastados de Deus. É preciso que tenham paciência, para que, assim, o lugar no reino dos céus lhe seja garantido.

Com o fim da lepra, a estrutura onde o leproso era mantido permanece, e será para sempre um local de exclusão, onde outros excluídos serão encaminhados e esperarão a “salvação”.

As pessoas acometidas de lepra, doenças venéreas e loucura representam os excluídos da sociedade (Foucault, 1972, p.6) que necessitam com urgência desaparecer da visibilidade das pessoas, carregando a marca da discriminação e exclusão.

Na Renascença, os loucos eram colocados em barcos e navios e carregados para cidades longe das suas em busca da razão. A terra do louco se limita á distância entre ambas as terras, a que foi sua e a que nunca será. Dessa forma, a água simboliza esta aterritorialidade com a qual a loucura será presenteada pelo ocidente. O louco não tinha chão, ou tinha água em volta de si, ou tinha grades. (Foucault, 1972, p.12).

A loucura passa a ser tema principal da literatura, do teatro, enfim, das artes como um todo. Neste espaço o louco não é visto mais como uma figura boba, e sim como detentor da verdade (Foucault, 1972, p.14). 

Na Idade Média, a loucura divide sua soberania com mais doze faquezas da alma humana, como luxuria, discórdia e outras. No entanto, na Renascença, a loucura passa a dominar todas as fraquezas humanas. Isso porque a loucura é visível, não esconde nada; ela atrai as pessoas  pelo fato de conseguir manter uma dominação sobre as coisas.

No século XVII, em Cervantes e Shakespeare (apud Foucault, 1972, p.39 ) a loucura sempre ocupa um lugar extremo no sentido de que ela não tem recurso. É uma loucura que opera sobre a morte, que precisa da “misericórdia divina”(Foucault, 1972 p.39). no entanto, a loucura  ainda triunfará, pois a morte não trouxe a paz.

A partir do século XVIII, a loucura está fora da interlocução com a razão. Por isso o homem da contemporaneidade deixou de se comunicar com o louco. Assim a ciência a transformou numa patologia.





No fim do século XVIII há um total de 126 casas de correção na Inglaterra. Anos depois espalham-se por toda a Europa . o internamento aparece como algo desumano, onde revela que os insanos não podiam responder por si mesmos – já que , por serem loucos, não tinham consciência dos seus atos; eram predestinados.

Enquanto o louco da Idade Média era considerado como sagrado, no século XVII ele foi dessacralizado. Assim, a loucura, antes de natureza religiosa, passa a ser puramente moral, confrontando os costumes e ultrapassando os limites  do que se considerava normal.

No século XVII, o internamento aparece não com a intenção de cura, mas com o sentido de disciplinar a mendicância e a vagabundagem. Este louco nasce de uma sensibilidade moral; ele é excluído porque seu lugar é entre os miseráveis; ele perturba a ordem social. Com isso o louco passa a ser propriedade do Estado.

Ainda no século XVII, o parlamento de Paris (1906) decide, através da força  punir aqueles que não retomaram o lugar na sociedade. Estes seriam  chicoteados em praça pública, marcados  nos ombros e expulsos da  cidade “Foucault,1972, p. 64). Isto quando não recebiam a forca ou a guilhotina, que serviam de espetáculo para as multidões, com o propósito de ser exemplo de constrangimento para as repetições.

È no século  XIX que os loucos irão ocupar os lugares antes ocupados pelos vagabundos  e miseráveis, sento também submetidos aos trabalhos obrigatórios . no entanto , distinguem-se dos outros pela incapacidade de seguir  os ritmos da vida coletiva.


O manicômio só surgiu após a obra de Pinel (1745-1826), que rompe com a tradição demoníaca da loucura e passa a considerá-la como doença mental. Segundo Pinel , o louco necessitava de cuidados, remédios  e, principalmente, do apoio   de outras pessoas.

È nesse sentido que surge a primeira “revolução” psiquiátrica, fazendo com que o século XIX fosse considerado o século dos manicômios em decorrência da enorme quantidade de hospitais que foram construídos e destinados aos doentes mentais.  Toda essa revolução fez a medicina psiquiátrica florescer, tornando o manicômio o seu núcleo gerador. O manicômio ao invés de um lugar de enclausuramento de loucos, passou a ser instrumento de cura.


Este ponto é paradoxal. Como distinguir um louco, se a loucura é Confusa e imperceptível para os olhos humanos? O perfil do louco se destaca se comparado a outros perfis no espaço exterior. Seu jeito extravagante e diferenciado leva sujeitos normais a perceberem a distinção entre eles e o louco, “A loucura só existe em relação à razão” (Foucault, 1972, p.184). 

Postagem Adriana

O cinismo da sociedade

Segundo Foulcout no livro a história da loucura, na idade média as pessoas portadoras de lepra (hoje hanseníase) eram colocadas em locais isolados da sociedade.
Com o passar dos tempos as pessoas com hanseníase foram morrendo, por estarem isoladas a doença não se propagou como antes, o número de casos diminuiu e as casas passaram a ser habitadas pelos “loucos”. Nas últimas décadas estes locais foram fechados e seus moradores devolvidos ao convívio social. Onde são marginalizados, tanto pela sociedade quanto por seus próprios familiares. Eles acabam se tornando um “peso” para estas famílias que na maioria das vezes estão desestruturadas, não tendo capacidade para auxiliar estes “doentes”.
Isto ocorreu apartir dos anos 80. Com a luta antimanicomial, que aqui no Brasil se iniciou em Santos na Casa de Saúde Anchieta. Tendo como base o modelo italiano. Agora estes indivíduos tem atendimento nos CAPS. Nestes locais se trabalha com as pessoas em grupos ou individualmente conforme a necessidade do momento.
 Agora pra refletirmos: se uma pessoa é portadora de uma doença, faz um tratamento durante um tempo vai para casa onde ele terá o apoio de todos para seu melhor restabelecimento. Não é muito melhor que viver trancado como um criminoso, longe da sociedade? Ser portador de uma deficiência é crime?

Postagem  -  Auzirene

NORMOSE

Psiquiatria: Sem Ciência, Sem Curas (legendado)

Psiquiatria: Sem Ciência, Sem Curas (legendado)

Dr. Thomas Szasz e a psiquiatria (legendado)

Ao ler os capítulos 1 e 2, Foucault demostra como foi constituida a loucura no decorrer dos séculos. Fazendo todo o percurso da historia social e humana, ele consegue identificar a loucura como algo socialmente construído. Ele faz uma leitura real em relação ao mito, as crenças (religiosidade) e a cultura e no quanto influência e dita o que é insanidade menta, como se fosse um modismo uma tendência.
Foucault faz todo um trajeto histórico, uma linha do tempo, onde demostra o que em determinada época era possível, aceitável... O papel da loucura e seu formato social nas determinadas culturas.
Mas o que é ser insano? normal? Quem é normal? O que é ser normal? enquanto lia esta questão pipocava na minha cabeça. O que temos é uma loucura latente, manipulada, caricata e esta ai, esta com ele, com outro, com a gente, esta comigo! Até pensamos que é exclusa, mais não! quem num certo dia lindo de outono, inverno, primavera ou verão não se viu no Nau dos loucos...?

Acho que esta música do Raul Seixas que retrata bem o que quero dizer...

Maluco Beleza

Raul Seixas

Composição: Cláudio Roberto / Raul Seixas

Enquanto você
Se esforça pra ser
Um sujeito normal
E fazer tudo igual...

Eu do meu lado
Aprendendo a ser louco
Maluco total
Na loucura real...

Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez...

Vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza...

E esse caminho
Que eu mesmo escolhi
É tão fácil seguir
Por não ter onde ir...

Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez
Eeeeeeeeuu!...
Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez

Vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com toda certeza
Maluco, maluco beleza...

Mais sobre a loucura....


Uma xícara de chá....um bom chá quente e reconfortante; uma pequena alegria numa noite triste e insone, longa e sombria; pequenas alegrias são como doses de energéticos que nos remetem adiante. Que dizer das grandes alegrias? São como drogas potentes que se esgotam rápido, quase sem tempo para consciencia . Quem já encontrou a tenue linha que separa a sanidade da loucura? Adrenalina chega e passa, entao podemos ser nós mesmos.
Nick era ela mesma, sem outra semelhante. Chegara assim, vinda nao sei de onde, inesperadamente; encontrada por acaso, encantara- nos com sua lourisse. Jovem e travessa tinha cheiro da rua de onde saíra; nada que um bom banho não pudesse resolver.Viera para ficar. Uma bela vida, dez ou onze anos. Nao podemos lembrar tudo e nem esquecer seu olhar, sua quietude, calma que podia virar agitação num segundo; percebi algumas simpatias e outras antipatias quase mútuas e simbióticas; reações averssivas?
Pedimos perdão, precisávamos; olhando outras, coisas perdi momentos importantes que seriam cruciais para sua vida e que seriam para a nossa. Como éramos muito ligados precisa promover os intervalos necessários , sem remédio, nessa proximidade. Em viagens o silencio obrigatório não diminuia a parceria, voluntária sem retoques. Os hotéis acolhiam essa
parceria honrosa sem desprezo pelas condiçoes inusitadas. Cada vez dizia que na proxima iriamos mais longe, mas nao chegamos a isto.As dores comuns, o sofrimento manso e as crises sorrateiras ficaram no passado mas nós seguimos em frente decidas a experimentar a vida melhor, apesar do assedio acintoso de outras dores e outra aflições.

A morte chega primeiro no ambiente e invade as partes; o que era um expectro agora é uma adaga afiada separando o que era inteiro e depois inércia, sem presente e sem futuro...só passado, sem voltas...perfeita noçao de fim....


Assim a loucura pode ser nossa também,nas nossas perdas amores e paixões sem privilégios.

ESTAMIRA E A HISTÓRIA DA LOUCURA

ESTE TEXTO ABAIXO, ESCRITO POR TOMÁZIO AGUIRRE, REFLETE PENSAMENTOS IMPORTANTES SOBRE NOSSO DISCURSO ACADÊMICO DIÁRIO, E ACHEI OPORTUNO POSTÁ-LO COMO FUTURA REFLEXÃO. PARA ÁQUELES QUE LERAM O TEXTO DE MICHEL FOUCAUL E A HISTÓRIA DA LOUCURA,HÁ UMA IDENTIFICAÇÃO CLARA.
FOI USADA NESTA POSTAGEM UM DOCUMENTÁRIO IMPERDÍVEL PARA TODOS QUE QUEREM ENTENDER A LOUCURA NUMA VISÃO AUTO EXPLICATIVA DE UMA ESQUIZOFRÊNICA...SENSACIONAL...ALUCINANTE!!!!
SUGIRO UMA OFICINA PARA QUE TODOS VEJAM O FILME E DEBATAM!!!

SEGUE ABAIXO UM PEDAÇO DO DOCUMENTÁRIO - TODAS AS PARTES ESTÃO DISPONÍVEIS NO YOUTUBE
http://www.youtube.com/watch?v=MQ9UavYxLXc&feature=related

ESTAMIRA E A LOUCURA
por Tomázio Aguirre

Vou tentar responder rapidamente a uma pergunta que poucas pessoas que ainda gostam de compreender as coisas têm se feito, já que as ciências aplicadas, como psiquiatria, psicologia e antropologia, têm se restringido a retóricas em torno dos temas que abordam, à medida que se concentram em pequenas disputas de poder institucionais e preciosismos pessoais. A pergunta é: O que é a loucura? E, mais particularmente, o que é a loucura no Brasil?

Vou responder usando um documentário muitíssimo instrutivo, de Marcos Prado, chamado Estamira (http://www.estamira.com.br/)sobre uma mulher louca (oficialmente esquizofrênica) moradora de um lixão no Rio de Janeiro.

Para começar, esqueçam o lugar-comum: a crença mundialmente difundida de que a loucura é uma doença do cérebro, de nome esquizofrenia, e a crença de que quem dela entenderia seriam os psiquiatras ou profissionais da “saúde mental”. Alguns poucos, raríssimos profissionais, sim, ainda se esforçam para não serem apenas cegos num tiroteio, mas a maioria deles não entende nada sobre loucura. São apenas práticos, prescritores de remédios ou de terapias vazias, mas sem compreender a essência daquilo com o que lidam. Também os antipsiquiatras, psicólogos e antropólogos têm se convertido apenas em ilusionistas, ideólogos, às vezes bem intencionados, que querem salvar o mundo, começando pelos loucos, mas pouco entendendendo daquilo a que se referem. Apenas tentam arregimentar seguidores, e muitas vezes conseguem. O Brasil é um país de messiânicos.

Quem atualmente estuda radicalmente a loucura se envolve com a junção de filosofia ontológica, antropologia filosófica e um pouco de antropologia social e de antropologia biológica, ou evolutiva, mas de um modo que não tem aparecido no academicismo brasileiro, e praticamente em academicismo algum, já que este tem se reduzido a disputas por bolsas de pesquisa, vaidades e dinheiro, sobrando muito pouco além disso. Nesse percurso, a medicina tem sido entendida apenas como uma "ciência" com técnicas para fins específicos, porém com explicações falsas sobre o ser humano - embora acreditadas popularmente como verdadeiras (do mesmo modo como popularmente se acreditava em demônios e paraísos celestiais na baixa idade média - e ainda se acredita no Brasil). Ou seja, a visão psiquiátrica sobre loucura é, em essência, uma questão de fé. E as demais visões da psicologia e antropologias que se popularizaram, muitas vezes concorrendo com a visão psiquiátrica, nada mais são do que uma espécie de "reforma protestante" da psiquiatria - apenas dogmas alternativos, porém nada além de novos dogmas.

O Brasil é um país infestado de loucos em hospícios, nas ruas, amarrados em quartinhos de fundo de quintal, trancados nas delegacias ou estendidos nos IMLs. Mas muito pouco, por aqui (como tudo o mais), se discute seriamente (se é que dá pra levar discussões intelectuais a sério atualmente) o que vem a ser a loucura humana.

Curiosamente, fui surpreendido pelo documentário Estamira, que é justamente interessante por não apresentar voz de narradores ou especialistas da psiquiatria, da saúde mental, da psicologia ou da antropologia brasileira abrindo a boca para explicar o que estava sendo mostrado. O documentário é apenas a voz de uma louca se auto-explicando, e explicando o mundo que a fez ser como é, e no qual ela vive do jeito que é possível: bruta, enraivecida, solitária, sofrida, que prefere viver no meio do lixo, cercada de outros restos humanos como ela, do que com sua família; vendo o mundo como um lugar de violência, conspirações, barbaridades, falsidades, genocídio, em que cada um tem que ser seu próprio herói, seu próprio deus, seu próprio mito e seu próprio guia, auto-construindo seu próprio sentido de vida; porque tudo o mais além do que a própria pessoa pode inventar para si mesma são mentiras que a levarão no máximo a uma vala comum de indigentes, de bandidos ou de loucos humanizados, medicados e intolerados.

Sei que após a década de 1960 loucura passou a ser sinônimo de "rebeldia", de "transgressão", de "desbunde", de "porralouquice", e muitos bem-nascidos passaram a ter um certo prazer em se auto-denominar ou se exibir como loucos, diferentes, extravagantes, viajandões, rebeldes, etc. Mas não é a este deleite burguês que me refiro como loucura.

Também não me refiro aos "loucos artistas", a associação tipicamente modernosa entre a loucura e a “arte", a contemplação estética burguesa, de vanguardas européias criando o estranho para chocar e para escandalizar, ou mesmo para se expressar existencialmente. Nem me refiro às ideologias que querem ver no louco, assim como em índios ou em quaisquer outras minorias, um ser de valor cultural que poderia salvar o decadente homem moderno de sua autodestruição. Nada, portanto, de dar pincelzinho pra meia dúzia de condenados, trancados em hospícios ou lugares similares, ficarem fazendo umas telas ridículas com as quais passam a ser ovacionados como “artistas”. Isso tudo quase nada tem a ver com a loucura dos milhões de loucos brasileiros que andam se arrebentando ou sendo arrebentados em sua loucura; tem apenas a ver com utopias intelectuais e humanistas.

Estou aqui falando da loucura trágica, da loucura catástrofe, da loucura fim-de-mundo, da loucura que leva um sujeito a se desesperar e a viver em um mundo delirante próprio, solitário, correndo pelas ruas e rejeitando a vida com os demais seres humanos, e sendo ao mesmo tempo rejeitado por todos, como seres indesejáveis e insuportáveis. Loucura esta que a Estamira do documentário expressa aos berros, sem ter sido silenciada por drogas, caridade, psicologias, polícia ou assassinato - que é o fim que tem levado a maioria dos milhões de loucos reais desse país. Mas curioso é que, por ser o Brasil um país que não se civilizou, Estamira conseguiu escapar a todas essas armadilhas modernas para os inadaptados, sobrevivendo sem ser silenciada e ainda indo parar em um filme. Trágica contradição deste país moribundo: apenas no caos a loucura tem voz própria. A Alemanha não deixou nem mesmo Nietzsche continuar berrando audivelmente depois de ter se tornado oficialmente doido. Mas aqui os loucos conseguem fugir ao controle social.

Essa loucura real, de loucos reais, subumanos, e não dos desejosos de serem artistas ou transgressores em suas "modinhas" intelectuais, é a solidão extrema e total a que o ser humano pode chegar; é quando tudo que existe aos olhos de todos os outros deixa de fazer sentido, só restando à pessoa reinventar solitariamente seu próprio mundo, sua própria crença, seus próprios fantasmas, seus próprios ídolos míticos, sua própria identidade, a par de todos, diferentemente de todos os outros em suas ilusões compartilhadas coletivamente.

A Estamira do filme foi uma mulher brasileira comum até o período da vida em que a sucessão de atos típicos do caos nacional a levaram a não mais conseguir acreditar e sentir o mundo como ela fazia até então, com valores morais cristãos, acreditando em um Deus bom, protetor e coerente, sendo boa mãe, cordial, limpa, educada, contida e auto-controlada - este era seu ideal de ser humano. Mas quando a realidade do caos ao seu redor desnudou todas essas suas fantasias morais e ilusões de um mundo que não mais existia, ela tornou-se uma pessoa sem "mundo" no qual acreditar: perdeu seus valores e suas ilusões necessárias à vida compartilhada com outras pessoas, e não conseguiu ter novas ilusões (crenças, ou sentidos para a vida), no lugar das anteriores. Ao contrário, em seu mundo anterior à loucura, a brutalidade real da vida brasileira não podia existir, e quando esta brutalidade foi escancarada em sua vida, sucessivamente, com estupros, violências e caos sem coerência, ela tornou-se uma pessoa sem um mundo dotado de sentido. Ela tornou-se um vazio existencial completo, um ser amorfo, com restos de identidades fragmentadas, com resquícios de valores morais contra os quais agora passava a lutar, por sabê-los irreais, com restos de crenças em Deus e coisas do tipo das quais agora tinha apenas raiva - por ter se descoberto uma pessoa enganada quanto a si mesma e quanto ao mundo real, brutal, caótico, genocida, no qual o ser humano não tem valor algum, a não ser em jogos de palavras hipócritas, com falsos humanismos – ou seja, o típico mundo da pobreza urbana brasileira, cercado de violênicia e de intelectuais humanistas, de médicos e de políticos profissionais.

Assim amorfa, aos olhos dos outros ela tornou-se louca, alguém a quem não se dá crédito, a quem não se compreende, com quem não se consegue compartilhar opiniões e crenças. Se lhe dessem ouvido, e se compreendessem o que ela fala, somado ao que falam os milhões de loucos brasileiros que não têm voz (por isso são loucos aos olhos dos outros), e sobre os quais não se faz filmes, viria à tona a realidade de um país e de um mundo de que a maioria da população não quer saber - preferindo todos continuar vivendo em seus estragados castelos de areia. Os loucos trariam à tona um país brutal, catastrófico, apocalíptico, um povo se auto-destruindo e ainda tendo que se acreditar alegre, carnavalesco e humanista-cristão.


Mas quem ainda quiser tentar ver este país para além de suas ilusões, basta parar de assistir Matrix, de jogar videogame, de fumar maconha, e assistir Estamira; e, principalmente, basta abrir os olhos e a mente para o que está ao seu redor - se conseguir. O Brasil apocalíptico de Estamira está escancarado. Pena que os cristãos e humanistas brasileiros irão apenas achar o filme bonito, com boa fotografia, com uma personagem cativante e digna de ser celebrada como pobre e excluída, por quem se deveria lutar ardorosamente por "inclusão social" e dignidade. Mas isto é apenas parte da ilusão dos que querem coletivamente continuar sonhando com um país que não existe e nunca existirá.

Freud em questão

Postando para a colega -> CRISTIANE BRAGA

Assunto da edição especial – Mente e Cérebro. Nº. 24

Freud em questão

Mais de um século depois de sua criação, a psicanálise ainda é alvo de críticas e polemicas.
Não é de espantar que cada vez que se fale sobre críticas a Sigmund Freud o nome do filósofo francês Michel Foucault venha à memória.
Foucault sustentou em sua experiência intelectual momentos de crítica não só ao pensamento freudiano, mas ao programa clínico da psicanálise de maneira mais vasta.
Em história da loucura, sua tese de doutorado de 1961, obra na qual a psicanálise é apresentada na esteira do “tratamento mental” desenvolvido por Philippe Pinel, William Tuke, Jean-Etienne Dominique Esquirol, François Leuret e outros, conjecturando que a teoria freudiana é uma espécie de convergência das diversas vertentes da psiquiatria do século XIX. Foucault coloca a idéia de Transferência, ponto fundamental da clínica psicanalítica, como uma sucessão da centralização da relação médico-paciente na proposta de cura pelos métodos de culpabilização e expropriação da verdade na loucura.

Nem peritos, nem sábios. Ordinários.

Balada do Louco (Mutantes)
Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Se eles são bonitos, sou Alain Delon
Se eles são famosos, sou Napoleão
Mas louco é quem me diz que não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu
Se eles têm três carros, eu posso voar
Se eles rezam muito, eu já estou no céu
Mas louco é quem me diz
Que não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu
Sim sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz
Eu sou feliz


Sei que é uma música conhecida, mas hoje conversamos muito sobre a loucura tendo como base algumas letras de música. A do post anterior foi uma, esta foi outra e ainda tenho algumas coisas para falar sobre algumas músicas de Raul Seixas.
As vezes por uma incansável tentativa de nos moldar para, então, preencher as espectativas de rígidas conservas sociais, tomamos atitudes e nos tornamos pessoas que na realidade não seríamos. Sei que as vezes pareço confusa ao me expressar, mas, muitas vezes encontramos a nossa felicidade em algo visto de fora como loucura. E quem vê de fora, e utiliza um tempo que poderia ser investido olhando para dentro de si, é feliz? Quem aponta e diz :"Olha lá, o cara é louco!", será que não está deixando de buscar sua felicidade, algo que o complete, que o faça transcender, com medo que do mesmo modo que julga o próximo, assim também será julgado!? Meu Deussss como é bom, sair pelas ruas com amigos e as vezes correr, ou dançar, ou gargalhar bem alto, cantar todos juntos. Falo disso, porque vivo isso dentro da própria faculdade, vivemos, aliás. Mas, e aí? Eu sou louca, mas e você, é feliz de verdade? Sei que é complexo achar resposta pra isso, mas, vale a pena refletir...
Para muitos, viver no mundo dos ditos "normais" é uma tortura! Desempregado, contas vencidas, a luz cortada, filhos dormindo e dia inteiro, abandonaram a escola antes de completar o ensino fundamental. Ou mesmo, ter uma casa linda, mas não ter amigos pra compartilhar a piscina da casa nova, viver deitada na cama mais cara do mundo porque está tão triste e com um sentimento de vazio tão profundo que a melhor solução para o momento seria a morte. Deixa eu fazer a minha realidade, como eu digo: "My pink little world", onde podemos ser Napoleão, Alain Delon, não precisar de carros, porque podemos ir além em segundos com as próprias asas... Essa realidade, vista como (des)razão, como algo desconecto do mundo, é vista por mim como uma virtude!! Sim, em um mundo onde nada vai bem, onde as coisas só pioram, por favor, parem um pouquinho, me deixem descer, porque eu quero ir pra ouuuutro lugar!


Eu calço é 37
Meu pai me dá 36
Dói, mas no dia seguinte
Aperto meu pé outra vez
Eu aperto meu pé outra vez
Pai eu já tô crescidinho
Pague pra ver, que eu aposto
Vou escolher meu sapato
E andar do jeito que eu gosto
Por que cargas d'água
Você acha que tem o direito
De afogar tudo aquilo que eu
Sinto em meu peito
Você só vai ter o respeito que quer
Na realidade
No dia em que você souber respeitar
A minha vontade
Meu pai
Meu pai
(Trecho da música Sapato 36 de Raul Seixas)

Achei de grande importancia colocar esta música, porque é exatamente o que a sociedade faz conosco. O mundo, abre as "portas" exigindo uma demanda específica. Você tem que se adapatar e se moldar a esta demanda. É algo exigido sim, a única opção é o sapato 36, e você aperta para que seu pé caiba nele. Quando você escolhe o sapato que vai usar, o papel que você vai exercer perante os diversos grupos que te permeiam, você corre um grande risco de ser chamado de louco, exatamente por ter saído da norma, por ter apresentado algo que não se encaixa na demanda construida culturalmente. E realmente, só pra finalizar, a sociedade a cada dia continua se achando no direito de reprimir, de afogar tudo aquilo que temos no peito, para ter nas mãos algo talvez seja parecido com um controle, domínio de tudo, de todos... Isso me remete muito a Derridá em Imprevisível Liberdade, e ao filme Cronicamente Inviável. Mas, é quase 5h da manhã e já filosofei muito por aqui, outro dia completo com estes dois pontos.
Eu escrevi (Nathi), mas estes pensamentos foram muito discutidos esta noite entre eu, a Rafaela, a Eliane e a Ana Carolina. Então, este texto é também delas, tanto quanto meu.
Hino Dos Malucos
(Rita Lee)



Nós, os malucos, vamos lutar
Pra nesse estado continuar
Nunca sensatos nem condizentes
Mas parecemos supercontentes
Nossos neurônios são esquisitos
Por isso estamos sempre aflitos
Vamos incertos
Pelo caminho
Nos comportando estranhos no ninho
Quando a solução se encontra, um maluco é do contra
Mas se vai por lado errado, um maluco vai do lado

Malucos, a nossa vida é dar bandeira
ligando a luz da cabeceira,
se a água pinga na torneira
Malucos, a nossa luta é abstrata
já que afundamos a fragata,
mas temos medo de barata

Nós, os malucos, temos um lema
Tudo na vida é um problema
Mas nunca tente nos acalmar
Pois um maluco pode surtar
Os nossos planos são absurdos
Tipo gritar no ouvido dos surdos
Mas todo mundo que é genial
Nunca é descrito como normal
Quando o papo se esgota,
um maluco é poliglota
Mas se todo mundo grita,
um maluco se irrita
Malucos, somos iguais a diferença
e todos temos uma crença:
seguir a lei jamais compensa
Malucos, somos a mola desse mundo,
mas nunca iremos muito a fundo
nesse dilema tão profundo



POSTADO POR:
RAFAELA, NATHALIA, ELIANE E ANA CAROLINA!!!!!!!!!!!!!!!

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Encontrei um artigo do Rafael Haddock-Lobo e achei algumas coisas bem interessantes. Este pedacinho cabe bem com o que estamos discutindo.

"(...) este modernamente entendido como doente mental que interessa a Foucault: a invenção da loucura como patologia, que se dá justamente no auge do humanismo. Esse processo histórico é o objeto central das análises de Foucault, pois é o que de fato representa a crescente dominação da loucura e sua progressiva integração à ordem da razão.
A partir da pesquisa de Foucault, a história da loucura deixa de ser a história da psiquiatria, pois passa a tratar da história deste processo de dominação e integração, cujo objetivo consiste não em tentar traçar uma linearidade ou uma análise da totalidade destes discursos sobre a loucura, mas antes tem sua característica fundamental em assinalar rupturas e estabelecer períodos. (...) O louco foi circunscrito, isolado, individualizado, patologizado por problemas econômicos, políticos e assistenciais, e não por exame médico. Tem-se aqui, então, uma estrondosa aporia: por um lado, a razão psiquiátrica é denunciada por Foucault como aquilo que sufocou, aprisionou e empreendeu todos os seus esforços (...) para destruir ou aniquilar a loucura; por outro lado, o que se percebe com História da loucura é que a razão é “não só incapaz de enunciar a verdade da loucura, como também responsável pelo banimento da verdade da loucura como desrazão”."


Rafael Haddock-Lobo - HISTÓRIA DA LOUCURA DE MICHEL FOUCAULT COMO UMA“HISTÓRIA DO OUTRO”

Reflexão sobre A História da Loucura

Ao assistir a filmes produzidos no final do século XX e no começo do século XXI, como Garota Interrompida (Girl Interrupted), Uma Mente Brilhante (Beautiful Mind) e Em Nome de Deus (The Magdalene
Sisters)1, percebo uma crítica muito forte à forma como a sociedade
ocidental do século XIX até meados do século XX se relacionou com os desvios e os descontroles – comumente homogeneizados e enquadrados pela expressão loucura. Dentro dessa crítica, estabelecida de maneiras diversas por cada um dos filmes, destaco duas que os unem: a contestação do internamento como a única solução encontrada para lidar com a loucura e, ainda, o domínio exercido pelas concepções médicas em seu tratamento.
Acredito que o livro A História da Loucura na Idade Clássica
(Foucault, 1997), escrito por Michel Foucault na segunda metade do século XX, trata profundamente dessas duas críticas que destaquei anteriormente. Procurarei trabalhar essas problematizações atentando para duas discussões: as concepções de história e de discurso presentes nos estudos de Foucault.
Penso que a primeira crítica, que contesta a relação necessária entre loucura e internamento, começa a ser trabalhada na primeira parte do livro. Para iniciar essa discussão, Foucault aponta uma situação: ao final da Idade Média, por volta do século XV, o problema da lepra desaparece e, com isso, um vazio aparece no espaço do confinamento. Se toda a preocupação do poder real em torno do controle dos leprosários desapareceu, Foucault afirma que esse acontecimento não representa o efeito da cura exercido pelas práticas médicas, mas uma ruptura que ocorreu no modo de entender e de se relacionar com a lepra e com o confinamento.
Além disso, essa ruptura não faz desaparecer duas noções importantes: os valores e as imagens atribuídas ao personagem do leproso e o sentido produzido pela exclusão desse personagem do seu grupo social. Essas duas questões são relevantes, pois elas serão retomadas num sentido inteiramente novo para caracterizar outro fenômeno: a loucura. No entanto, para que reações de divisão, exclusão e purificação dominassem a loucura foram necessários quase dois séculos, pois as experiências e as formas de se relacionar com a loucura produzidas na Renascença tinham um sentido completamente diverso e Foucault procurará compreendê-lo.

Reflexões sobre A História da Loucura de Michel Foucault - Priscila Piazentini Vieira, 2006

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Linha histórica em tópicos:

“... não há mais leprosos na casa que lhes é destinada. Em Lipplingen, o leprosário é logo povoado por incuráveis e loucos.” p.5

“... A lepra se retira, deixando sem utilidade esses lugares obscuros e esses ritos que não estavam destinados a suprimi-las, mas sim a mantê-la a uma distância sacramentada, a fixá-la numa exaltação inversa. Aquilo que sem dúvida vai permanecer por muito mais tempo que a lepra, e que se manterá ainda numa época em que, há anos, os leprosários estavam vazios, são os valores e as imagens que tinham aderido à personagem do leproso; é o sentido dessa exclusão, a importância no grupo social dessa figura insistente e temida que não se põe de lado sem traçar à sua volta um círculo sagrado.” p.6

“Desaparecida a lepra, apagado (ou quase) o leproso da memória, essas estruturas permanecerão. Freqüentemente nos mesmos locais, os jogos da exclusão serão retomados, estranhamente semelhantes aos primeiros, dois ou três séculos mais tarde. Pobres, vagabundos, presidiários e ‘cabeças alienadas’ assumirão o papel abandonado pelo lazaranto, e veremos que salvação se espera dessa exclusão, para eles e para aqueles que os excluem. Com um sentido inteiramente novo, e numa cultura bem diferente, as formas subsistirão – essencialmente, essa forma maior de uma partilha rigorosa que é a exclusão social, mas reintegração espiritual.” p.6

“... várias vezes tenta-se escorraçá-los, mas em vão: eles lá ficam e se misturam aos outros doentes.” p.7

“Fato curioso a constatar: é sob a influência do modo de internamento, tal como ele se constituiu no século XVII, que a doença venérea se isolou, numa certa medida, de seu contexto médico e se integrou, ao lado da loucura, num espaço moral de exclusão. De fato, a verdadeira herança da lepra não é aí que deve ser buscada, mas sim num fenômeno bastante complexo, do qual a medicina demorará para se apropriar.
Esse fenômeno é a loucura. Mas será necessário um longo momento de latência, quase dois séculos, para que esse novo espantalho, que sucede à lepra nos medos seculares, suscite como ela reações de divisão, de exclusão, de purificação que no entanto lhe são aparentadas de uma maneira bem evidente...” p.8

“... A preocupação de cura e de exclusão juntavam-se numa só: encerravam-nos no espaço sagrado do milagre. ”p.11

“É que esta circulação de loucos, o gesto que os escorraça, sua partida e seu desembarque não encontram todo seu sentido apenas ao nível da utilidade social ou da segurança dos cidadãos. Outras significações mais próximas do rito sem dúvida aí estão presentes; e ainda é possível decifrar alguns de seus vestígios.”p.11


“... Mas a isso a água acrescenta a massa obscura de seus próprios valores: ela leva embora, mas faz mais que isso, ela purifica. Além do mais, a navegação entrega o homem á incerteza da sorte: nela, cada um é confiado a seu próprio destino, todo embarcar é, potencialmente, o último. É para o outro mundo que ele chega quando desembarca. Esta navegação do louco é simultaneamente a divisa rigorosa e a Passagem absoluta. Num certo sentido, ela não faz mais do que devolver, ao longo de uma geografia semi-real, semi-imaginária, a situação limiar do louco no horizonte das preocupações do homem medieval – situação simbólica e realizada ao mesmo tempo pelo privilégio que se dá ao louco de ser fechado ás portas da cidade: sua exclusão deve encerrá-lo; se ele não pode e não deve ter outra prisão que o próprio limiar, seguram-no no lugar de passagem. Ele é colocado no interior do exterior, e inversamente. Postura altamente simbólica e que permanecerá sem dúvida a sua até nossos dias, se admitirmos que aquilo que outrora foi fortaleza visível da ordem tornou-se agora castigo de nossa consciência.

A água e a navegação têm realmente esse papel. Fechado no navio, de onde não escapa, o louco é entregue ao rio de mil braços, ao mar de mil caminhos, a essa grande incerteza exterior a tudo. É um prisioneiro no meio da mais livre, da mais aberta das estradas: solidamente acorrentado à infinita encruzilhada. É o Passageiro por excelência, isto é, o prisioneiro da passagem. E a terra à qual aportará não é conhecida, assim como não se sabe, quando desembarca, de que terra vem. Sua única verdade e sua única pátria são essa extensão estéril entre duas terras que não lhe podem pertencer.”p.12

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MINA SINA

MINA SINA

Luizinho Gonzaga
e Marlene Bertozzi

Ai meu compradre
Vou contá o que aconteceu
Numa terra em que meu Deus
Desviou o seu olhar
Eu que vivia numa cidade de louco
Gente pobre condenada
A muita fome e muito mais
E eu jogado que nem bicho
Que nem lixo
Debaixo de um viaduto
Vivendo como animal
Um certo dia
Não agüentei tanta loucura
Saí louco pela rua
Nu em pelo a gritar
Ai, ai, ai
E me prenderam
Me cuspiram, me bateram
Mutilaram minha vida
Me tiraram do lugar
E me jogaram dentro de uma viatura
Que pulava feito mula
Quando vai desembestar
E me jogaram num lugar
Cheio de muros
No meio de muita gente
Que era pra eu me curar
Naquele páteo a minha cura demorava
E era gente que andava
E não saía do lugar
Me colocaram
Dentro de um quarto forte
Onde eu vi a minha morte
Me abraçando devagar
Depois tomei descarga de eletrochoque
Perdi todos os meus sentidos
E acordei ainda lá
O tempo corre, o tempo voa
Mas não passa
Tô perdendo a minha raça
A vontade de lutar
E todo mundo procurando a loucura
Onde está a minha loucura
A loucura onde é que tá
Ai,ai,ai.
O Barco dos Tolos - Hyeronimus Bosch

Foucault descreve, em sua obra “A História da Loucura”, a Narrenschiff como sendo a única nave romanesca ou satírica que teve existência real. Segundo ele “esses barcos que levavam sua carga insana de uma cidade para outra (...)As cidades escorraçavam-nos de seus muros; deixava-se que corressem pelos campos distantes (...)Esse costume era freqüente particularmente na Alemanha: em Nuremberg, durante a primeira metade do século XV, registrou-se a presença de 62 loucos, 31 dos quais foram escorraçados.” Assim, os ditos loucos que ameaçavam a ordem e o bom funcionamento social, eram mantidos longe dos olhos da população dita normal.
A forma como lidamos com a loucura, ainda hoje, basicamente não difere de como era feita no final da Idade Média. Os loucos continuam a ser camuflados dentro de instituições, pois estes depósitos, de certa forma, funcionam tão bem quanto a Nau dos loucos, pois protegem a comunidade dos riscos da insanidade.

Eu estava assistindo ao filme “Ilha do Medo” de Martin Scorsese e uma cena logo no início me chamou a atenção. O detetive Teddy, interpretado por Leonardo DiCaprio, ao chegar na ilha que funciona como um hospital psiquiátrico para os “loucos criminosos”, é alertado a tomar cuidado para não se contagiar e diz em um tom sarcástico que a loucura não é contagiosa, mas seu parceiro, Chuck, interpretado por Mark Ruffalo, responde rapidamente e de forma irônica “Mas é contagiante.”
Pensei se seria este o “contágio” tão temido socialmente, que faz com que escorracemos os loucos em Naus? Seria uma forma de preservar "nossa sanidade" ameaçada pela presença "deles"? Provavelmente...

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Cazuza - Vida louca vida



"Se ninguém olha quando você passa você logo acha..."

É necessário sempre um outro...
Sempre deve existir alguém...
Tudo acaba por se estabelecer numa relação de comparação...

Louco! Louco em comparação a que?! ou a quem?!
E se ninguém olha?!