domingo, 22 de agosto de 2010

Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo. Em http://www.inforside.com.br/noticias.aspx?id=155&sectionID=9, Acesso em 22/08/2010, faz um comentário do olhar diferente sobre a loucura de Foucault;

Foucault observa que, mesmo sob a consciência crítica da loucura, e suas formas filosóficas ou científicas, morais ou médicas, uma abafada consciência trágica não deixou de ficar de vigília. No século XVI, a experiência trágica e cósmica da loucura viu-se mascarada pelos privilégios exclusivos de uma consciência crítica e apenas algumas páginas de Sade e a obra de Goya são testemunhas de que o desaparecimento não significou uma derrota total.

E eis que este aparecimento avança a ponto de o mundo do começo do século XVII mostrar-se estranhamente hospitaleiro para com a loucura, mal guardando a lembrança das grandes ameaças trágicas. É que este mundo interna o louco, enclausura a loucura e desta maneira dela parece dar conta.

O conceito de Loucura, em Foucault, não é exatamente um conceito ligado diretamente ao “patológico” ou aos que ele chama de “doentes mentais”. Fazendo uma análise, a partir de uma crítica ao modo de pensar da Idade Clássica, Foucault afirma ser louco todos aqueles que não se adequam à “normalidade” ditada pela sociedade “racionalista ou àqueles que fogem aos padrões da “normalidade”.

Na página 39 do Livro a História da Loucura, Michel Foucault , usa o nome de Shakespeare, e fiz um recorte de Freud e Shakespeare, de E. Portella Nunes e C. H. Portella Nunes. Imago, 1989 que nos reporta as loucuras das peças do autor:

Em Shakespeare, também, os problemas da loucura são considerados em sua íntima conexão com a sanidade e mesmo com a sabedoria. Vamos considerar, para efeito de exposição, os três tipos de loucura que aparecem em suas peças: a loucura dos Bobos, a loucura fingida e a loucura verdadeira.

1) Os Bobos

Os Bobos funcionam mais ou menos como os coros das tragédias gregas, pois têm também este sentido de promover o aprendizado do herói. O Bobo não é

propriamente uma pessoa e sim uma função exercida nas cortes medievais. Tal função caracteriza-se por uma licença especial para poder dizer certas verdades, mesmo que desagradáveis ao rei ou a outras personagens da corte – “Licensed fools”.

2) A loucura fingida

Alguns personagens de Shakespeare vão fingir-se de loucos a fim de conseguir um determinado objetivo.

O caso mais conhecido é o da falsa loucura de Hamlet, através da qual ele

visava obter dados que incriminassem o rei seu padrasto na morte de seu pai, ficando, ele próprio, livre de qualquer suspeita.

Logo no Ato I, Hamlet vai anunciar a Horácio sua intenção de fingir-se de

louco e fazê-lo jurar que não irá denunciá-lo. Seu intuito está ligado à visão do

fantasma do pai. (Ato I, 5).

3) A loucura verdadeira

São numerosos os loucos que aparecem nas peças de Shakespeare. Loucos de todos os tipos, revelando seu grande conhecimento dos meandros da loucura.

Um dos casos mais bem caracterizados é o da Ofélia de Hamlet. Trata-se de uma psicose típica, desenvolvida pela trama das mensagens contraditórias em que ela se vê envolvida pelo irmão, pelo pai e pelo próprio Hamlet. Ofélia, que cedo perdera a mãe, fica fragilizada diante dos homens. O pai e o irmão a proíbem explicitamente de aceitar a corte que lhe faz o príncipe Hamlet. Por outro lado, o pai atribui a loucura de Hamlet à rejeição por Ofélia, portanto à obediência da filha aos seus conselhos. Hamlet, que a princípio mostrara-se amoroso, por sua vez passa a maltratar Ofélia quando decide fingir-se de louco.



2 comentários:

  1. O conceito de Loucura, em Foucault, não é exatamente um conceito ligado diretamente ao “patológico” ou aos que ele chama de “doentes mentais”. Fazendo uma análise, a partir de uma crítica ao modo de pensar da Idade Clássica, Foucault afirma ser louco todos aqueles que não se adequam à “normalidade” ditada pela sociedade “racionalista ou àqueles que fogem aos padrões da “normalidade”.

    Eu concordo, acredito que a questão da loucura não se remete apenas ao patológico... A visão do que temos por loucura, no meu ver, esta muito ligada com o que a sociedade enxerga como sendo "normal"/"saudavel"/frequente... E o que não se enquadrar neste dito "normal", passa a ser tido como louco, doente e etc. é uma maneira de lidar com o que não conhecemos direito, com o que não nos é tão frequente (mas será que não é tão frequente?!)...
    E nessa questão de adequação, em que momentos nos adequamos? Estamos sempre adequados aos padrões impostos pela sociedade? Somos todos loucos?! (... pelo menos em alguns momentos, acredito que sim...).

    Só pra compartilhar com vocês... =P

    Beijo,
    TETA

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  2. "(...) o louco, pelo contrário, lembra a cada um sua verdade..." (p.14)

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