sábado, 23 de outubro de 2010

Foucault nos fala na pag. 139, que se conspira de modo tão espontâqneo com a maldade, a loucura voluntária, aquela que parece apoderar-se do homem contra sua vontade, não é nada diferente, em sua essência secreta, daquela que é fingida intencionalmente por indivíduos lúcidos.

Rigor na alienação, a insensatez, o modo fácil de conspirar, de trancafiar o que nos incomoda e daí não há escuta, não há olhar e principalmente um outro olhar, um além do bem e do mal.

Abaixo uma parte do livro que relata situações de internação no Brasil e fala dos que ali viveram muito tempo.

História e loucura : saberes, práticas e narrativas / YonissaMarmitt

Wadi, Nádia Maria Weber Santos, organizadoras. - Uberlândia :

EDUFU, 2010. 368 p. In http://www.scribd.com/doc/33895338/Historia-e-loucura, Acesso em 23/10/210

Um Lugar (im)Possível Capítulo11:

Narrativas sobre o viver em espaços de internamento Yonissa Marmitt Wadi. Poucos, dentre os vários sujeitos anônimos ou famosos, que foram internados e viveram curtos ou longos períodos em asilos ou hospitais psiquiátricos, relataram em escritos (na forma de bilhetes, cartas, poesias, diários, romances etc.), em imagens (desenhadas no que encontravam pela frente, nas paredes das instituições, em telas ou papeis oferecidos nas oficinas terapêuticas) ou mesmo por meio da fala (capturada em gravações) suas experiências no interior das instituições. Alguns dos internos delinearam em seus escritos o processo de sua enfermidade, os tratamentos buscados (antes e depois da internação), seu encontro com as práticas e o poder médico; alguns outros se limitaram a reivindicar sua condição de não louco, condição esta atestada pela Doutora em História; professora do CCHS e dos programas de mestrado em História e em Desenvolvimento Regional e Agronegócio – Unioeste; bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq.

História e loucura: saberes, práticas e narrativas por médicos psiquiatras (ou não) quando da internação nas instituições; outros ainda rememoraram suas vidas até o momento da internação, ora no sentido de defenderem- se da acusação de serem loucos, ora acusando outrem (especialmente familiares, amantes, inimigos etc.) pela impu- tação da loucura a eles dada.

Ser considerada uma doente mental fez com que Stela fosse internada e permanecesse até sua morte em instituições manicomiais, porém, contrariamente a qualquer diagnóstico, era vista por outros sujeitos (seus companheiros de internamento ou mesmo alguns operadores de saberes como psiquiatras ou psicólogos), para além do redutor atributo de doente mental. Era considerada uma filósofa /poeta que refletiu as dores, os horrores, mas também o processo de subjetivação no hospício. Por um lado, suas palavras – transformadas em texto – podem ser consideradas.

Para Stela, o espaço de internação, “o hospital parece uma casa”, mas “o hospital é hospital”. O olhar de Stela remete ao significado comumente atribuído às práticas e à instituição psiquiátrica – lugar de controle e exclusão, de criação de doença, não de cura:

Estar internada é ficar todo dia presa,

Eu não posso sair, não deixam eu passar pelo portão

Maria do Socorro não deixa eu passar pelo portão

Seu Nelson também não deixa eu passar lá no portão

Eu estou aqui há vinte e cinco anos ou mais.

Eu estava com saúde

Adoeci

Eu não ia adoecer sozinha não

Mas eu estava com saúde

Estava com muita saúde

Me adoeceram

Me internaram no hospital

E me deixaram internada

E agora eu vivo no hospital como doente...

O remédio que eu tomo me faz passar mal

E eu não gosto de tomar remédio pra ficar passando mal

Eu ando um pouquinho, cambaleio, fico cambaleando

Quase levo um tombo

E se levo um tombo eu levanto

Ando mais um pouquinho, torno a cair.

Nenhum comentário:

Postar um comentário