quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Apreciação Crítica

Lembrando que aqui estão minhas opiniões pessoais acerca da leitura , que não estão livres de interpretações equivocadas. O importante é que podemos discutir mais tarde sob os diferentes pontos de vista.

Referente aos capítulos III e IV do livro “A história da loucura na Idade Clássica”, de Michel Foucault.

Michel Foucault parte da noção de homem da época estudada (séculos XVI,XVII, XVIII...), noção de cidadão que se formava, isto é, a participação, o papel do homem dentro das normas em que lhe eram (e sempre foram) impostas. A história da loucura, como tratou nos dois capítulos anteriores, vem principalmente da construção da história da sociedade que se viu necessitada, em certo momento, de uma ordem fabricada a partir dos desejos principalmente estéticos de uma minoria social autoritária.

No capítulo III, “O mundo correlacional”, Foucault resgata a discussão acerca das internações nos séculos XVII e XVIII ao citar o fator (e valor) social da questão. A internação daqueles ditos loucos teria como propósito livrar a cidade (e a burguesia) dos “perigos” correspondentes às “loucuras” dos homens: a desordem familiar e social. Questiona sobre até que ponto esse “mal-estar da sociedade” (p. 80) seria defendido e aceito pela medicina da época, que, muito provavelmente, beneficiou-se desses fatos para crescer como ciência (justamente a ciência do bem-estar). Surge então a alienação não só dos próprios alienados, mas de toda a sociedade, e ainda hoje se vêem reflexos da mesma.

O autor afirma “o internamento não representou apenas um papel negativo de exclusão, mas também um papel positivo de organização” (p. 83). Organização somente devido ao fato de que a política ainda vinha se desenvolvendo, mas a exclusão por si já anula uma ideia de organização. A sociedade se desorganiza cada vez em que não evolui diante das adversidades, como a doença e o sofrimento, e regride a partir do momento em que decide ignorá-las. Não havia tratamento nas internações, apenas o afastamento de pessoas com “desvios” sexuais, pessoas que não seguiam a religião predominantemente Católica, os pecadores desta mesma religião, pessoas com doenças venéreas, devassidão, dentre outras categorias que passaram a ser julgadas moralmente a partir de então. “O sistema de repressão (...) como conduta moral, o conduzirá progressivamente para os limites de uma psicologia” (p. 95): talvez esse tenha sido o grande legado da Idade Clássica. E como negar que hoje cada um de nós carrega um pouco de libertino, um pouco de neurose, como “uma experiência comum da angústia” (p. 108)?

Os hospitais de internação eram superlotados (como visto em “Experiências da Loucura”, capítulo IV), e mantinham pessoas sob condições sub-humanas, muitas delas condenadas pela própria justiça a permanecerem por lá pelo resto das vidas, sem ao menos uma perspectiva de tratamento. Foucault comenta o pertencimento desses casos à polícia (ou seria à polícia?), que não dava conta da demanda dos loucos, apenas praticavam os exercícios do sistema. Provavelmente a medicina moderna tenha se beneficiado com esse caminho pelo qual percorreu, mas é evidente que esta não tinha estrutura para recebê-los. Mais tarde problematizariam, de forma também ética, o papel moral e social que trouxe todo esse processo de condenação da loucura e ainda o modo como ocorreu e suscitou sua exclusão generalizada (que deixa suas marcas até os dias de hoje, mas que muito beneficiou a evolução das ciências).


Comentem!

5 comentários:

  1. E como negar que hoje cada um de nós carrega um pouco de libertino, um pouco de neurose, como “uma experiência comum da angústia” (p. 108)?

    ADOREI...É BEM POR AÍ MESMO...SOMOS TÃO LIBERTINOS EM NOSSOS PENSAMENTOS...SE PUDÉSSEMOS AGIR EM CONFORMIDADE COM ESTES (PENSAMENTOS) ESTARÍAMOS SENDO TAXADOS DE LOUCOS...POR ISSO A ANGÚSTIA TOMA CONTA DA MAIOR PARTE DAQUELE QUE REPRIME O QUE SENTE...

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  2. Esse ponto da internação, sem tratamento... é chave tbm...

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  3. Em primeiro lugar, não existe interpretação errada, existe sim interpretação possível, ou melhor leitura possível. Neste sentido se colocarmos a dimensão da interpretação em um esquema maniqueísta, do tipo certo errado, bom e mal, bom e mau não teríamos de outra forma mais do que limitando a possibilidade de leitura? Óbvio que muitos pontos são discutíveis, e isso que torna a leitura um evento social,óbvio que algumas percepção podem ser ampliadas e algumas discussões aprofundadas...Mas não é isso que desejamos?

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  4. Em segundo lugar quando Foucault discute a positividade da organização a partir do internamento essa positividade diz respeito a forma como os loucos são colocados como fenômeno que se oferecem ao estudo científico, é a partir do internamento que que a positividade e materialidade da alma começam a se delinear, da mesma forma que as faltas morais se traduzem em sinais des doenças mentais a partir de Pinel. Ainda relacionado a isso o internamento organiza um espaço analítico e disciplinar que promove uma série de discursos e concepções sobre o louco e a loucura, o que de certa forma é uma organização também positiva.

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