Sabrina Camargo
Científico, ano III, v. I, Salvador jan./jun., 2003.
Em seu livro História da Loucura, Foucault apresenta o fenômeno da loucura desde o Renascimento até o seu total estabelecimento na sociedade. Sendo que, não só a maneira de o homem lidar com a loucura sofreu transformações com o passar dos séculos, mas também o modo como esta foi encarada pela razão.
Toda sua narrativa começa com a disseminação da lepra através das cruzadas que trouxe do Oriente, principal foco de contaminação da doença que começou a se espalhar rapidamente por toda a Europa. Inúmeros estabelecimentos precisaram ser construídos para abrigar tanta gente.
Com falsas idéias e muita hipocrisia, a Igreja afirma que, embora afastados da Igreja e das outras pessoas, os leprosos não estão afastados de Deus. É preciso que tenham paciência, para que, assim, o lugar no reino dos céus lhe seja garantido.
Com o fim da lepra, a estrutura onde o leproso era mantido permanece, e será para sempre um local de exclusão, onde outros excluídos serão encaminhados e esperarão a “salvação”.
As pessoas acometidas de lepra, doenças venéreas e loucura representam os excluídos da sociedade (Foucault, 1972, p.6) que necessitam com urgência desaparecer da visibilidade das pessoas, carregando a marca da discriminação e exclusão.
Na Renascença, os loucos eram colocados em barcos e navios e carregados para cidades longe das suas em busca da razão. A terra do louco se limita á distância entre ambas as terras, a que foi sua e a que nunca será. Dessa forma, a água simboliza esta aterritorialidade com a qual a loucura será presenteada pelo ocidente. O louco não tinha chão, ou tinha água em volta de si, ou tinha grades. (Foucault, 1972, p.12).
A loucura passa a ser tema principal da literatura, do teatro, enfim, das artes como um todo. Neste espaço o louco não é visto mais como uma figura boba, e sim como detentor da verdade (Foucault, 1972, p.14).
Na Idade Média, a loucura divide sua soberania com mais doze faquezas da alma humana, como luxuria, discórdia e outras. No entanto, na Renascença, a loucura passa a dominar todas as fraquezas humanas. Isso porque a loucura é visível, não esconde nada; ela atrai as pessoas pelo fato de conseguir manter uma dominação sobre as coisas.
No século XVII, em Cervantes e Shakespeare (apud Foucault, 1972, p.39 ) a loucura sempre ocupa um lugar extremo no sentido de que ela não tem recurso. É uma loucura que opera sobre a morte, que precisa da “misericórdia divina”(Foucault, 1972 p.39). no entanto, a loucura ainda triunfará, pois a morte não trouxe a paz.
A partir do século XVIII, a loucura está fora da interlocução com a razão. Por isso o homem da contemporaneidade deixou de se comunicar com o louco. Assim a ciência a transformou numa patologia.
No fim do século XVIII há um total de 126 casas de correção na Inglaterra. Anos depois espalham-se por toda a Europa . o internamento aparece como algo desumano, onde revela que os insanos não podiam responder por si mesmos – já que , por serem loucos, não tinham consciência dos seus atos; eram predestinados.
Enquanto o louco da Idade Média era considerado como sagrado, no século XVII ele foi dessacralizado. Assim, a loucura, antes de natureza religiosa, passa a ser puramente moral, confrontando os costumes e ultrapassando os limites do que se considerava normal.
No século XVII, o internamento aparece não com a intenção de cura, mas com o sentido de disciplinar a mendicância e a vagabundagem. Este louco nasce de uma sensibilidade moral; ele é excluído porque seu lugar é entre os miseráveis; ele perturba a ordem social. Com isso o louco passa a ser propriedade do Estado.
Ainda no século XVII, o parlamento de Paris (1906) decide, através da força punir aqueles que não retomaram o lugar na sociedade. Estes seriam chicoteados em praça pública, marcados nos ombros e expulsos da cidade “Foucault,1972, p. 64). Isto quando não recebiam a forca ou a guilhotina, que serviam de espetáculo para as multidões, com o propósito de ser exemplo de constrangimento para as repetições.
È no século XIX que os loucos irão ocupar os lugares antes ocupados pelos vagabundos e miseráveis, sento também submetidos aos trabalhos obrigatórios . no entanto , distinguem-se dos outros pela incapacidade de seguir os ritmos da vida coletiva.
O manicômio só surgiu após a obra de Pinel (1745-1826), que rompe com a tradição demoníaca da loucura e passa a considerá-la como doença mental. Segundo Pinel , o louco necessitava de cuidados, remédios e, principalmente, do apoio de outras pessoas.
È nesse sentido que surge a primeira “revolução” psiquiátrica, fazendo com que o século XIX fosse considerado o século dos manicômios em decorrência da enorme quantidade de hospitais que foram construídos e destinados aos doentes mentais. Toda essa revolução fez a medicina psiquiátrica florescer, tornando o manicômio o seu núcleo gerador. O manicômio ao invés de um lugar de enclausuramento de loucos, passou a ser instrumento de cura.
Este ponto é paradoxal. Como distinguir um louco, se a loucura é Confusa e imperceptível para os olhos humanos? O perfil do louco se destaca se comparado a outros perfis no espaço exterior. Seu jeito extravagante e diferenciado leva sujeitos normais a perceberem a distinção entre eles e o louco, “A loucura só existe em relação à razão” (Foucault, 1972, p.184).
Postagem Adriana
Adorei! Só queria saber mais apartir de quando apareceu os medicamentos para trata-los? mais enfim ... foi bom ...adorei o que li.
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