sábado, 18 de setembro de 2010


REFLEXÃO ?

No cap. 4, na pág. 134, Foucault, nos coloca o conceito tão estranho da alienação psicológica, acorrentando sempre o outro em relação a sua liberdade. O louco, todos que naquele momento histórico gritam contra o controle e repressão, o que o racionalismo autorizou entre o castigo e o remédio de acordo com o cap. 3 na pág. 87, o gesto que pune e o gesto que cura.

Hoje ainda temos em nossa sociedade castigos e remédios, quando, por exemplo, além da palmada tão discutida hoje em dia contra a criança, aquela que não tem como se defender, a palmada psicológica que castiga, que sugere o medo, a coerção. Dogmas e rotulações feitas que restringem a capacidade da análise e reflexão, colocados de tal forma que inibem o ser pensante de pensar. E que tal os hiper-reativos em vez dos hiper-ativos?

Quem deixa quem louco? Luis Antônio Baptista, em seu texto “A atriz, o padre e a psicanalista – os amoladores de facas” nos diz:

“O fio da faca que esquarteja, ou o tiro certeiro nos olhos, possui alguns aliados, agentes sem rostos que preparam o solo para esses sinistros atos. Sem cara ou personalidade, podem ser encontrados em discursos, textos, falas, modos de viver, modos de pensar que circulam entre famílias, jornalistas, prefeitos, artistas, padres, psicanalistas, etc. Destituídos de aparente crueldade, tais aliados amolam a faca e enfraquecem a vítima, reduzindo-a a pobre coitado, cúmplice do ato, carente de cuidado, fraco e estranho a nós, estranho a uma condição humana plenamente viva.”

A falta de algo, um laço partido, isso leva as pessoas a sala de terapia seja ela qual for, a uma religião ou a qualquer outra situação que a faça procurar esse depender.

Vejo que toda a dependência é a falta de algo, um desejo que não é satisfeito, onde o sujeito busca suprir, Freud diria que é sublimar, direciona o desejo para outra coisa. mas a questão é a falta de que? Pulsão de vida, pulsão de morte? Mas essa falta parece-nos a falta de alguém, já que o homem é um ser social e precisa constantemente estar sendo exaltado, isto é se sentir alguém e não um ninguém, precisa ser em vez de ter, num universo tão complexo, e a falta desse ser e estar como potência, como um ser reconhecido que muitas vezes é ressachado pelo outro, o outro que depende, que o leva a condições muitas vezes patológicas ou poderíamos dizer nos dias de hoje ´´normais``, porque poucos são os enaltecidos. Esses seriam os anormais, gozando de toda condição de superioridade, de ter o tão desejado valor, e então procurar o ter em vez do ser.

Daí as doenças da dependência. Dependências não satisfeitas, dor que invade a alma, a falta, que precisa ser preenchida de diversas formas, e assim substituída por diversas maneiras que preenchem essas brechas para o não pensar, e se não preencher entra num sistema de insatisfação, levando as tristezas dessa falta, que já não mais reconhece.

Mas e se tiver tudo isso suprido, o homem consegue ir em frente?Ou se acomoda de todas as lutas, Então esse é o excitamento a que o homem é levado em busca de suas escolhas e de seus projetos? È necessário? Qual seria a dose?

E porque adoece? Não acha mais projeto, não tem mais excitamento, nada mais lhe é interessante? E quando isso acontece? Seria o não ser notado, desvalorizado, a falta?

Pichon concebe o vínculo como uma estrutura dinâmica em contínuo movimento, que engloba tanto o sujeito como o objeto e afirma que esta estrutura dinâmica apresenta características consideradas normais e alterações interpretadas como patológicas. Considera um vínculo normal àquele que se estabelece entre o sujeito e um objeto quando ambos têm possibilidades de fazer uma escolha livre de um objeto, como resultado de uma boa diferenciação entre ambos.

E nenhum paciente apresenta um tipo único de vínculo: todas as relações de objeto e todas as relações estabelecidas com o mundo são mistas. Existe uma divisão que é mais ou menos universal, no sentido de que por um lado se estabelecem relações de um tipo, e por outro, de um tipo diverso. ( Pichon-riviére, 1991) sendo assim, uma pessoa pode estabelecer um vínculo paranóico por um lado, e por outro um vínculo normal ou ainda um vínculo tendendo à hipocondria, isso porque as relações que o sujeito estabelece com o mundo são variadas, bem como as estruturas vinculares que utiliza.

De Certeau no discurso do homem ordinário, nos fala das caças não autorizadas a que o homem recorre num ir e vir no seu cotidiano e este esta movido pelo excitamento do querer e do ser no sobreviver usando de táticas que me reporta a Derrida nos colocando diante do advém, desconstruindo lógicas intruncadas posicionadas que estão além do bem e do mal, fazendo-nos refletir que justiça é diferente de direito, e o bicho homem movido por um desejo de ser estará confrontando para deixar de ser um apenas cada um , levando o homem na representação diária dos papéis, trazendo o olhar de Foucault diante da loucura que nos atrela a realidade pragmática e dogmática da punição social que coloca os sujeitos num devido lugar para conforto de alguns, sempre substituindo os momentos de um a outro, na necessidade complexa do penalizar alguém.

E como tudo depende, depende da cultura, depende do momento, depende de quem e de como, e assim a loucura também depende. E fica aqui a pergunta depende de que?

2 comentários:

  1. ... Realmente, depende de que?!??? Isso me intriga...


    E essa coisa da falta, do preencher, do substituir, preencher as brechas/ as lacunas/ os pontos cegos... É muito do nosso próprio cérebro, né!? Não sei, deu vontade de falar um pouquinho...
    Temos uma necessidade tão grande de preencher "coisas"/ de completar/ de não deixar nada em branco... que as vezes eu acho que o cérebro, apesar de se articular de maneira tão brilhante dentro do que acaba "sobrando" ou lhe cabendo, ele não encontra ou encontra maneiras tortas de preencher...
    Não sei se me faço compreender... heheh
    Tá um pouco confuso pra mim tbm...mas digo no que resulta nas ditas loucuras e etc e tals...
    Mais ou menos por ai... =p

    Ah, só pra trocar um pouquinho...
    Se alguém fisgar o fio da meada vem falar cmg... =p

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  2. O cérebro, não pensa...o cérebro processa informação, e quando a informação falta ele preenche, vc pensa que quando algo falta vc e seu cérebro preenchem. Mas o vazio tão aversivo é no fim o vazio de significado, de que tudo isso é a imagem da loucura, e que sem a verdade como pastor somos loucos em nossas vidas normais

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